quinta-feira, 26 de junho de 2008

Um Deus que sorri

Eu acredito em Deus !... Mas não sei se o Deus em que euacredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, ou o porteiro. O Deus em que acredito não foi globalizado. O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém. Não está cansado, portanto não tem trono. É uma idéia, uma energia, uma eminência. Não tem rosto, portanto não tem barba. Não caminha, portanto não carrega um cajado.
O Deus que me acompanha não é bíblico. Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade. Não distribui culpas a granel: As minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão. O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos. O Deus em que acredito não condena o prazer. Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo. Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo. Se Ele não tem controle sobre enchentes, guerrilhas e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria Ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: O lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem? Cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros.
O Deus em que acredito não é tão bonzinho, me castiga e me deixa uns tempos sozinho. Não me abandona, mas me exige mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres; A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve. Meu Deus é discreto e otimista. Este é o Deus que me acompanha. Um Deus simples. Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe tudo e vê tudo. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço num amigo, uma música na hora certa, um silêncio. É onipresente, mas não onipotente. Quem não te sorri não é cúmplice. Meu Deus é humilde.
(Martha Medeiros - publicada no livro NON-STOP)
Recebido por email de Carmem

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Diálogo entre Leornardo Boff e o Dalai Lama

Leonardo Boff explica:
"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:
-
"Santidade, qual é a melhor religião?"
Esperava que ele dissesse:
"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:
"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
- "O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
- "Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável.... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.

Recebido por email de Carmem

terça-feira, 24 de junho de 2008

Inteligência é o maior afrodisíaco que um homem pode oferecer

Nem de longe é a beleza de um homem que encanta a mulher. Para a sorte de vocês (ou azar, vai saber...), nosso barato é diferente, e pode ser definido, entre outras coisas, como "virilidade". Essa definição tem muito pouco a ver com coçadas supostamente discretas nos testículos, cuspidelas na sarjeta ou exaltação do sistema nervoso diante de 22 homens suados correndo no gramado, imbuídos do espírito de encaçapar a gorduchinha. Vai muito além da testosterona exacerbada. Tem a ver com autoconfiança, sempre. E com perspicácia, qualidade muito rara num homem. Ou você pensou que seria fácil? Não ligamos pra barriga, careca ou pneuzinhos, até porque sabemos muito bem que nada disso atrapalha, tanto quanto o seu oposto pode ser absolutamente desprovido de encantos se não vier acompanhado de um perfil psicológico substancioso. Mas o que afinal de contas isso quer dizer, nunca te explicaram. Então lá vai. Voltemos à virilidade. Acho que poucas coisas nesta vida são mais eróticas e provocantes do que a inteligência. E quem a tem também possui senso de humor - porque somente os inteligentes não levam nada muito a sério e sabem se divertir mesmo com as intermináveis chatices cotidianas. Então temos inteligência e senso de humor, que somados à malícia (outro atributo dos neurologicamente privilegiados) arrebatam as mulheres e tornam um homem ainda maior aos nossos olhos. Porque não basta pregar a gente na parede. Isso todo ser munido de um bom falo é capaz. É preciso, para se diferenciar da varonil multidão, despertar nosso impulso primitivo racionalmente ativável. Eternamente alunas Vocês olham uma mulher e pensam: "Meu Deus, que peitos, que nádegas, que cinturinha escultural, que boca mais lasciva...", e já começa o devaneio e o desejo de abater. Nós, não. É impossível uma mulher (minimamente inteligente, claro) olhar para um homem esteticamente interessante e, sem nenhuma conversa, desejar ser invadida. Não. Eis aqui a diferença: nosso desejo de invasão não prescinde do intelecto (você já deve ter presenciado o olhar admirado e sensual das alunas de um grande professor). É preciso passar primeiro pela porta da razão para chegar à porta da alegria. E quanto melhor for o instrumento pensante do sujeito, maiores as chances de acolhida de um outro também interessante e mais mecânico agente. Porque mulher gosta mesmo é de ser surpreendida, e isso só acontece quando se depara com alguém mais esperto do que ela. Todos sabem o jogo que estão jogando, esse interminável gato-atrás-do-rato que motiva nossa vidinha. E é preciso reconhecer as suas regras, o que requer maturidade. Homem que baba demais, no chance. Os que bajulam e não convencem, também. Os cafas,cruz-credo! A gente tem olho clínico pra eles e passa longe quando os vê. Os demasiadamente (ou precipitadamente) românticos têm grande chance de morrer na praia, porque acaba o desafio. Os posudos e pretensiosos não duram mais do que uma noite.
Restam então os inteligentes. Estes, sim, sabem do que somos feitas. E sabem que, por trás de toda empáfia, vaidade ou sedução, está um bichinho indefeso em busca de acolhimento, louco por um colo. A virilidade está nisso, na consciência masculina de que não somos assustadoras nem lascivas, mas apenas mulherzinhas assustadas e ávidas por um olhar que nos descubra. E nos devore, de preferência.
(Kika Salvi)
Recebido por email de Graça

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Filtro solar


Nunca deixem de usar filtro solar.
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o Futuro seria esta: use filtro solar.
Os benefícios a longo prazo do uso de Filtro solar estão provados e comprovados pela ciência.
Já o resto de meus Conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência Errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês...
Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba Que "pré-ocupação" é tão eficaz quanto mascar chiclet e para tentar resolver Uma equação de álgebra.
As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de Coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, que te pegam no ponto Fraco às 16h de uma terça-feira modorrenta.
Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade. Cante.
Não seja leviano com o coração dos outros, não ature gente de coração Leviano. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes, se está por Cima; às vezes, por baixo... A peleja é longa e, no fim, é só você contra Você mesmo. Estique-se, não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As Pessoas mais interessantes que conheço não sabiam aos 22 o que queriam Fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda Não sabem.
Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos: você vai sentir falta Deles. Faça o que fizer, não se auto-congratule demais e nem seja severo Demais com você. As suas escolhas têm sempre metade das chances de dar Certo. É assim com todo mundo.
Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder mesmo. Não tenha Medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais Incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance... Mesmo que não Tenha onde, além de seu próprio quarto.
Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando estarão indo Embora, de vez. Seja legal com os seus irmãos. Eles são a melhor ponte com O seu passado e, possivelmente, quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vêm. Mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e destinos de Vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das Pessoas que conheceu quando jovem. Viaje. Aceite certas verdades Inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também Vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era Jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes e as crianças Respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos e não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez Você arrume uma boa aposentadoria privada, talvez case com um bom partido, Mas não esqueça que um dos dois pode, de repente, acabar. Não mexa demais Nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um Jeito de pescar o passado do lixo, de esfregá-lo, repintar as partes feias E reciclar tudo por mais do que vale.
Mas no filtro solar, acredite!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

MEUS SECRETOS AMIGOS

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, disse José Luís Borges, eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem os meus amigos. Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências. A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo para a loucura ou para o suicídio. Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, maior fruto de meu egoísmo do que por quanto eles souberam tornar-se a mim tão caros. Mas como as duas coisas se confundem, eu alivio a minha consciência.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer. Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos que sabem que são meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos.

(Paulo Sant'Ana - Publicada em ZERO HORA)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Entre amigos

Para que serve um amigo?
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra.
Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, “A Identidade”, que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

(Martha Medeiros)
Recebido por email de Bel P.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Sou católico, apostólico, baiano.

Sou devoto de Santo Antônio e de Nossa Senhora do Carmo. Entrei no candomblé, tardiamente, aos 20 e tantos anos, pelas mãos de Luiza Olivetto e Lícia Fabio, que me pediram para ajudar nas obras de restauração do telhado do Terreiro do Gantois. Fui consertar o telhado do Gantois e o Gantois consertou minha vida. O candomblé não é uma religião. É um culto. Culto aos antepassados, às forças da natureza. O candomblé é moderno. Ele já era ecológico antes que a ecologia entrasse em voga. Ele é avançado. Não exclui opções sexuais. Ao contrário, acolhe. Os deuses do candomblé têm ira, inveja e raiva. Xangô é colérico. Oxum é ciumenta e chorosa. Ogum tem o pavio curto.

A religião católica quer que os homens sejam deuses. No candomblé, são os deuses que baixam nos homens. Não é muito chique ser do candomblé. Pelo menos na parte do país em que eu vivo. Como toda cultura vinda dos vencidos, é visto como desvio, coisa de gente desajustada ou de artista. E confesso que isso, ao contrário de me afastar dele, sempre me instigou a caminhar contra o vento. Toda sexta-feira, vejo, aqui e ali, o olhar jocoso com que algumas pessoas me olham vestido de branco. Neste momento, sou judeu. Adoro como os judeus se afirmam pelo mundo usando suas barbas, seus quipás e seus casacos longos, onde convêm e onde não convêm.

Aliás, como estudante bissexto de cabala, vejo constantemente as similaridades entre procedimentos do candomblé e do judaísmo. Eles também se preocupam com olho gordo, eles também passam frango no corpo, eles também se banham em sal grosso. Enfim, há muitas similaridades entre o candomblé e a cultura judaica.
O candomblé é, e isso precisa ficar bem claro, o culto do bem. Tantas vezes confundido com feitiço. Ele é magia. As grandes mães-de-santo da Bahia se dedicavam sempre ao bem e à luz.
Se, aqui e ali, alguém usou esses poderes santos para o mal, é descaminho. E contra ele a força deve ter se voltado com certeza. O catolicismo não pode ser julgado a partir de padres pedófilos. E o candomblé não pode ser julgado a partir de pais-de-santo picaretas que ficam se exibindo na TV ou fazendo macumbas perversas.

Tenho certeza de que na hora em que o Santo Padre pisar no Brasil, todas as mães-de-santo do país e seus filhos e filhas estarão rezando e saudando sua Santidade. Ainda que a igreja não tenha sido nem seja tão generosa com o candomblé. Mas o candomblé não está nem aí. Queira Roma ou não, na Bahia, igrejas e terreiros convivem e se abraçam. E isso é mágico.
E candomblé é magia. Aquela energia que a gente sente na Bahia vem dele. Aquela comida vem dele. Aquela música, aquela batida vem dele. Aquela sensualidade e aquela pimenta vêm dele.
Sua Santidade, por ser padre e por ser alemão, talvez não tenha o mesmo jogo de cintura para assimilar tudo isso. Mas meus olhos e meu coração não podem negar o bem que mãe Cleusa me fez. O bem que mãe Stella me faz. Coisas inexplicáveis que eu não entendi. Mas presenciei.
E não se pode negar o bem e as coisas mágicas que elas fazem pelos pobres. O candomblé sempre foi e continua pobre. Não tem catedrais, nem TVs, nem rádios. Não faz coleta de dinheiro. Ao contrário, as grandes mães-de-santo doam. Ao invés de lucrarem, vivem modestissimamente. E vivem consumidas dia e noite por todos aqueles que as procuram por um amor, pelo sossego perdido, pela paz nunca encontrada, pela esperança de cura ou de um amanhã melhor.

Vi mãe Cleusa, minha linda mãe do Gantois, morrer muito cedo, estressada por sua luta e sua dedicação à causa de sua mãe. Causa que hoje mãe Carmem, irmã da falecida, conduz com garbo, doçura e carinho. Vejo mãe Stella, a maior mãe de santo do Brasil e a mãe de santo que eu escolhi, do alto dos seus 80 anos, consumir seus dias a dar ao povo pobre da Bahia, luz e esperança a setores da sociedade onde geralmente a luz e esperança não chegam. Mãe Estela vive franciscanamente. Nunca fez voto de pobreza. Porque os pobres não precisam desse voto já que já são pobres.
O candomblé foi perseguido no passado pela polícia. Hoje é perseguido pelas igrejas evangélicas. Que escolheram o candomblé como bode expiatório num marketing infame. E batem dia e noite no candomblé. Diante do silêncio lamentável de todos nós.

Bisneto de preto, neto de pobres, filho da Bahia, de mãe Cleusa e mãe Stella, teimosamente digo não a essa perseguição implacável. E defendo nosso direito democrático de acreditar na força do trovão, dos mares, do vento e da chuva. Pode ser primário, mas é lindo. Quer coisa mais bonita do que acreditar que os deuses podem baixar entre os homens em lugares tão pobres onde nem a saúde, a educação e polícia se interessam em ir?
Por isso saúdo sua Santidade e peço a Xangô e a Oxum que guiem seus caminhos para que ele possa ser uma grande mãe ao longo de seu papado. Que, além de encíclicas e regras, ele nos dê colo e carinho, porque o que o mundo mais precisa é de colo e carinho. Que ele seja o carinho da gente, a estrela mais linda. Que ele seja uma espécie de mãe Menininha global.
Porque, ao fazer isso, ele honrará o trono de Pedro e terá cumprido, no fim de seu papado, seu papel no tempo e na história.
Nizan Guanaes, especial para a Folha de São Paulo, na ocasião da visita do Papa Bento XVI.
Recebido por email de Zuleide.

domingo, 15 de junho de 2008

ORAÇÃO A MIM MESMO

Que eu me permita olhar, escutar e sonhar mais.
Falar menos. Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm
e não a inveja que prepotentemente penso que têm.
Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática,
as palavras que se fazem gestos
e os gestos que se fazem palavras.

Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim
e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis;
aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto,
a cada nova flor,a cada novo calor,
a cada nova geada, a cada novo dia.

Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amar, sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,dos movimentos,
do impossível,da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir,pelo compreender,
pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental
(aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).

Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma,
vislumbrar as curvas, desenhar as retas,
e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida.

Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos
fazendo-me parte suprema da natureza,
criando-me e recriando-me a cada instante.

Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.

Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo:
- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e desperte com o coração cheio de esperanças.

Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência,
sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos,
humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas,
que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas
e o quanto é valiosa minha pequenez.

Que eu me permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso,ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei,
traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências;
respeitar incondicionalmente o ser;
o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar a solidão de quem chegou,
render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.

Que eu possa amar e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.
Amém
(Oswaldo Antônio Begiato)
Recebido por e-mail de Raimundo.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Consumo, logo existo



Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza,ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.
.................................
Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.
Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói." E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".
(Frei Beto - Dominicano. Escritor.)
Recebido por email de Virgílio.
n n n Percepção de valores
Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer.
Eis que o sujeito desce na estação do metrô:Vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal.
Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1.000 dólares.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.
A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.
A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife.Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço. O que tem valor real para nós, independentemente de marcas, preços e grifes?
É o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser?Essa experiência mostra como na sociedade em que vivemos os nossos sentimentos e a nossa apreciação de beleza são manipulados pelo mercado, pela mídia, e pelas instituições que detém o poder financeiro. Mostra-nos como estamos condicionados a nos mover quando estamos no meio do rebanho.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Tempo Mágico

Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma tijela de cerejas. As primeiras, ela chupou-as displicente, mas percebendo que faltam poucas, até rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabarolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalômanos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que lutaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:"as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.Quero a essência, a minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na tigela, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir dos seus tropeções, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do Bem.
Caminhar perto de coisas e pessoas verdadeiras, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes,nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.

(Ruben Alves)

Recebido por e-mail de Álvaro.

n n n EMBRIAGUEM-SE

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê?
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
(Charles Baudelaire)

Recebido por email de Jujo.

KAIZEN

Kaizen - Palavra japonesa que quer dizer "melhoria contínua".
Outro dia recebi uma história muito interessante, chamada "O Tesouro de Bresa", onde uma pessoa pobre compra um livro com o segredo de um tesouro. Para descobrir o segredo a pessoa tem que decifrar todos os idiomas escritos no livro. Ao estudar e aprender estes idiomas começam a surgir oportunidades na vida do sujeito, e ele lentamente começa a prosperar.
Depois ele precisa decifrar os cálculos matemáticos do livro. É obrigado a continuar estudando e se desenvolvendo, e a sua prosperidade aumenta.
No final da história, não existe tesouro algum - na busca do segredo, a pessoa se desenvolveu tanto que ela mesma passa a ser o tesouro.
O profissional que quiser ter sucesso e prosperidade precisa aprender a trabalhar a si mesmo com muita disciplina e persistência. Vejo com freqüência as pessoas dando um duro danado no trabalho, porque foram preguiçosas demais para darem um duro danado em si mesmas. Os piores são os que acham que podem dar duro de vez em quando. Ou que já deram duro e agora podem se acomodar.
Entenda: o processo de melhoria não deve acabar nunca.
A acomodação é o maior inimigo do sucesso!!!
Por isso dizem que a viagem é mais importante que o destino. O que você é, acaba sendo muito mais importante do que o que você tem. A pergunta importante não é "quanto vou ter?", mas sim "no que vou me transformar?"
Não é "quanto vou ganhar?", mas sim "quanto vou aprender?".
Pense bem e você notará que tudo o que tem é fruto direto da pessoa que você é hoje. Se você não tem o suficiente ou se acha o mundo injusto, talvez esteja na hora de rever esses conceitos.
O porteiro do meu prédio vem logo à mente. É porteiro desde que o conheço. Passa 8 horas por dia na sua sala, sentado atrás da mesa.
Nunca o peguei lendo um livro. Está sempre assistindo à TV, ou reclamando do governo, do salário, do tempo. É um bom porteiro, mas em todos estes anos poderia ter se desenvolvido e hoje ser muito melhor do que é.
Continua porteiro, sabendo (e fazendo) exatamente as mesmas coisas que sabia (e fazia) dez anos atrás. Aí reclama que o sindicato não negocia um reajuste maior todos os anos. Nunca consegui fazê-lo entender que as pessoas não merecem ganhar mais só porque o tempo passou. Ou você aprende e melhora, ou merece continuar recebendo exatamente a mesma coisa.
Produz mais, vale mais? Ganha mais.
Produz a mesma coisa? Ganha a mesma coisa.
É simples. Os rendimentos de uma pessoa raramente excedem seu desenvolvimento pessoal e profissional. Às vezes alguns têm um pouco mais de sorte, mas na média isso é muito raro. É só ver o que acontece com ganhadores de loteria, com astros e atletas. Em poucos anos perdem tudo.
Alguém certa vez comentou que se todo o dinheiro do mundo fosse repartido igualmente, em pouco tempo estaria de volta ao bolso de alguns poucos.
Porque a verdade é que é difícil receber mais do que se é.
Como diz o Jim Rohn, no que ele chama do grande axioma da vida: "Para ter mais amanhã, você precisa ser mais do que é hoje". Esse deveria ser o foco da sua atenção. Não são precisos saltos revolucionários, nem esforços tremendos repentinos. Melhore 1% todos os dias (o conceito de"kaizen"), em diversas áreas da sua vida, sem parar. Continue, mesmo que os resultados não sejam imediatos e que aparentemente/superficialmente pareça que não está melhorando. Porque existe, de acordo com Rohn, um outro axioma: o de não mudar:
"Se você não mudar quem você é, você continuará tendo o que sempre teve".

Recebido por email de Mascarenhas.

domingo, 8 de junho de 2008

ESCUTATÓRIA


"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso,também, que haja silêncio dentro da alma" (Fernando Pessoa) "
"Ao contrário do que muitos pensam, o controle da situação está nas mãos de quem ouve, não de quem fala."

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma". Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas.). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades. Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado".
Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou".

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
(RUBEM ALVES)
Recebido por email de Hamilton.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Comercial da Paz


Esse comercial não tem mulher de biquíni, não tem cachorro, não tem criança, não tem bebezinho. Esse comercial não tem casal, não tem beijo, não tem por do sol, não tem família tomando café da manha. Esse comercial não tem música de sucesso, não tem efeito especial, não tem tartaruga jogando bola. Esse comercial não tem gente famosa nem garoto propaganda. Porque esse comercial é para vender um produto que ninguém precisa ser convencido a comprar.
Esse comercial é para vender um produto que você adora consumir e que por sinal você até já comprou... Só que não estão entregando. É um produto que não tem marca nem tem slogan. Não tem embalagem nem faz promoção tipo leve 3 pague 2. Esse comercial é todo branco porque desse jeito ele pode ser entendido aqui e no mundo inteiro. Aliás, seria muito bom que esse comercial pudesse passar no mundo inteiro.
Porque o produto que esse comercial quer vender é a paz. Enquanto o pessoal que precisa comprar a paz não compra, faça assim: Pegue o estoque de paz que você ainda tem em casa e use: Use no trânsito, use na fila do banco, use no elevador, use no futebol. Paz é um produto interessante, porque quanto mais você usa, mais você tem. E, se todo mundo usar, quem sabe chegue um dia em que ninguém mais precise fazer um comercial para vender a paz...
(Washington Olivetto)

terça-feira, 3 de junho de 2008

AVENTURA CRIATIVA


Você é uma aventura.
Você existe, vive e se move no Infinito.
Vastos recursos de energia, talento e habilidade afluem para sua vida.
Você é um feixe de mistérios.
Descobrir e conquistar a si mesmo são um trabalho para a vida inteira.
Existem dentro de você ricos depósitos de minérios esperando que você os explore.
Você tem poder – o poder de modificar a si mesmo e modificar o mundo; o poder de criar planos, projetos, movimento pelo bem estar comum; o poder de inspirar e servir.

Há coisas incríveis dentro de você: livros a serem escritos, canções a serem cantadas, quadros a serem pintados, invento a serem criados, remédios a serem descobertos, pontes e catedrais a serem construídas, verdades a serem reveladas... grandes obras sairão de você.

Você é dono de sua própria vida. Você enfrentará todas as dificuldades com fé e coragem, imaginação e audácia. Você carrega no inconsciente milhões de anos de experiência e sabedoria. Você está no ápice da evolução.

Você provará sua criatividade buscando coisas que estão além de seu alcance, superando a si mesmo. Enfrentará os contratempos com ânimo e disposição. Você seguirá em frente, pois como disse um mestre hindu:
“Não há limite para o ser em desenvolvimento que está firmemente decidido a se expandir”.

Arrisque-se. Arrisque tudo que você é, e tudo que você pode vir a ser.
Amplie-se; multiplique as formas pelas quais você pode contribuir para a vida.

Algumas crenças podem ser lógicas, mas são falsas!

'Se escutar uma voz dentro de você dizendo : Você não é um pintor', então pinte sem parar, de todos os modos possíveis, e aquela voz será silenciada.' Vicent Van Gogh (1853-1890), pintor.

Há muitas razões para você ter medo de tentar, muitas razões para falhar,muitas razões para desistir, muitas razões para voltar à sua concha eesperar a vida se esgotar aos poucos. Jogando fora um dia de cada vez.Sim. Há muitas razões para acreditar naquela voz, dentro da sua cabeça, que tenta anular você, corromper seu potencial e convencer você de que é um desperdício tentar dar o próximo passo. Essa voz diz: 'Para que escrever aprópria história? Assista TV, e viva a história de outros, coma mais e não se exercite, para destruir sua principal máquina de mudar seu mundo; esqueça o amor, anule-se.' Estas são as mensagens que tentam derrubar você.
Há muitas razões para desistir. Todas, absolutamente todas, falsas. Os limites estão em você, não em regras criadas por outros. Nossa sociedade é dominada pela absurda 'lei das médias'. Se a maioria não consegue, tentam fazer com que você acredite que jamais conseguirá.
Aleijadinho não acreditava na voz interior que dizia,com toda a lógica do mundo, que 'aleijados não podem ser escultores'. Era lógico, mas era falso.
Santos Dumont não acreditou nos compatriotas que insistiam em dizer que ohomem não poderia voar com um veículo mais pesado que o ar. Era lógico, mas era falso.
O mundo é plano, diziam aos navegadores. Era lógico, mas era falso. Há muitas coisas nas quais você acredita, com lógica, mas que são absolutamente falsas. É fácil inventar uma razão, um motivo aparentemente lógico, para qualquer coisa. Mas sua vida pode ser muito mais do que um amontoado de desculpas lógicas.
Sua vida é muito mais do que qualquer razão para desistir de um sonho. Sua vida é muito mais do que seu passado ruim, suas experiências de dor e seus medos ancestrais. Sua vida é tudo o que ainda virá. Não importam os limites do seu passado, eles não existem mais. Seu futuro pode ser tudo o que você desejar. Escolha os companheiros de viagem... e vá.
Por isso, toda vez que 'escutar uma voz dentro de você dizendo 'Você não é um pintor', então pinte sem parar, de todos os modos possíveis, e aquela voz será silenciada.', como afirmou Van Gogh, um dos maiores pintores da história.
Substitua a palavra 'pintor' por engenheiro, jornalista, arquiteto, policial, mãe, professor, motorista, cantor, ator,escritor.... ou o que você desejar.
E acredite nisso: sua mente e seu corpo são obrigados a seguirem as suas decisões, suas ações e suas crenças. Silencie a voz que tenta derrubar você. Porque ela pode até ser lógica, mas é falsa. Não acredite nela.

Aldo Novak - Conferencista e Coach (276273)
Recebido por email de Betania.

domingo, 1 de junho de 2008

APRENDER...

A melhor coisa a fazer quando se está triste é aprender alguma coisa. Essa é a única coisa que não falha nunca. Você pode ficar velho e trêmulo de corpo, pode ficar acordado na noite, escutando a desordem de suas veias, pode perder seu único amor, pode ver o mundo a sua volta devastado por lunáticos perigosos, ou saber que sua honra está sendo espezinhada nos esgotos das mentes mais abjetas.
Só há uma coisa a fazer então: APRENDER.
Aprender o que você precisa. Observe quantas coisas há pra você aprender: ciência pura, a única pureza que existe.
Você pode aprender astronomia no espaço de uma vida, história natural em três, literatura em seis. E então, depois que esgotou um milhão de vidas aprendendo biologia, medicina e crítica teológica, geografia, história e economia, ora, você pode começar a fazer uma carroça de madeira apropriada, ou gastar cinqüenta anos aprendendo a começar a aprender a vencer o seu adversário na esgrima, até que chegue a hora de aprender a arar.

(Texto de H.White)

Aprender é descobrir aquilo que você já sabe.
Fazer é demonstrar que você sabe.
Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.
Somos todos aprendizes, fazedores, professores."
(Richard Bach)

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
(Cora Coralina)

"Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar."

(Voltaire)
"O que eu ouço, esqueço. O que eu vejo, lembro. O que eu faço, aprendo."
(Confúcio)

DEPOIS DE UM TEMPO

Depois de um tempo você aprende a sutil diferença entre segurar uma mão e acorrentar uma alma
e você aprende que amar não significa apoiar-se e companhia não quer sempre dizer segurança
e você começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas
e você começa a aceitar suas derrotas com sua cabeça erguida e seus olhos adiante com a graça de mulher, não a tristeza de uma criança
e você aprende a construir todas as estradas hoje porque o terreno de amanhã é demasiado incerto para planos e futuros têm o hábito de cair no meio do vôo
Depois de um tempo você aprende que até mesmo a luz do sol queima se você a tiver demais então você planta seu próprio jardim e enfeita sua própria alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores
E você aprende que você realmente pode resistir você realmente é forte você realmente tem valor e você aprende e você aprende com cada adeus, você aprende.
(Veronica Shoffstall)