quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Apologia do Analfabetismo

Analfabeto é mais lógico.
Não morde (como os cães)
Nem incomoda seus donos;
Não sabe que tem dentes
Nem força de partir coleiras
E correntes.

Analfabeto não gasta livros
Nem papéis nem tintas
E (como cegos) não
Distingue as cores
Por isso não vê
Se tudo está cinzento
Ou verde com bolinhas
Da mesma cor.

Se lhe disserem canarinho
Ele vê canarinho
Mesmo que seja zebra,
Se lhe disserem
Que tudo está colorido
Ele crê (como os crentes),
Como os santos.

Analfabeto é gente,
Cidadão, eleitor
Não protesta, não se imola
Por amor ou por idéias;
Tem (vida) e necessidades,
E cada um por si,
E Deus lá em cima por todos nós.
Analfabeto é mais barato
Não sonha "strogonoffs"
Nem palácios, nem carrões;
E olha os padrões (naturais!)
Que assim foi escrito
E assim é por vontade de Deus
Que (ouve dizer!) nos criou iguais

Analfabeto não conhece "estroboscópio"
Nem outras ignomínias,
Nem invenções hopocondríacas
Como neuroses, Stress, grilos existenciais.
Sua etiologia se resume em fome.
Fome e Fome.
Analfabeto é mais simples, mais pop,
E também Não dói (como a morte)
Que dói na gente, mas não dói
No dono .

(Desconheço o autor)


"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem!" (Mario Quintana)


"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não vê, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, o pilantra, o corrupto e lacaio das empresas nacionais e internacionais". (Berthold Brecht)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Irretocável

Tenho cabelos vermelhos, pintados, para esconder os fios brancos.
Não me lembro exatamente em que ano eles começaram a branquear...
Tenho algumas rugas em volta dos olhos, mas também não me recordo quando elas começaram a aparecer. Tento disfarçá-las, tantas novidades no campo da dermatologia, achei por bem aproveitá-las.
Do corpo não cuido quase, só recentemente entrei para uma academia por ordem médica. Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios...Mas falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica. Das minhas unhas cuido semanalmente, penso que elas são uma porta de visita. Unhas maltratadas causam uma péssima impressão!
De uns dois anos pra cá descobri os cremes e aí compro um aqui, outro ali e no final não uso nenhum, mas compro, só de olhá-los na prateleira já percebo que as rugas se retraem.
Sou assim, vaidosa, mas não sou em excesso, penso que sou na medida certa, na medida correta para uma mulher. Enfim os anos passam e as marcas que eles deixam em nós, não temos como conter. Nem pretendo isso! Acho que cada marca, que meu corpo carrega, tem uma linda história.
Às vezes me pego na frente do espelho descobrindo uma nova ruguinha e já me coloco a pensar o que a causou. Depois reencontro com outra que já está lá vincada há anos e me recordo quando ela apareceu. Poderia enumerar também a história de cada fio de cabelo branco. Foram filhos, maridos, amigos que colocaram eles ali. Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas,apenas amenizá-las, acho que mereço isso. A vida me deve isso.
Atualmente a parte que merece mais a minha atenção, tem sido a cabeça. Tento, todos os dias, colocá-la no lugar, equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias. Corpo e mente caminham juntos. Se um estiver em estado lastimável , o outro provavelmente vai se deteriorar.
Não escondo minha idade. Não adiantaria falar que tenho trinta e cinco e apresentar uma filha de vinte e sete. Portanto eu confesso: tenho quarenta e oito anos. Metade deles bem vividos, a outra metade muito sofridos. Mas é exatamente aí que está o encanto da minha idade. Conheci de tudo um pouco, das lágrimas aos sorrisos e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou hoje.
Ficaram as rugas no rosto e na alma, mas também ficaram sorrisos em ambos. Minhas rugas mais bonitas são aquelas marcas de expressão que eu adquiri por tanto sorrir, muitas vezes, quando o coração chorava.

(Silvan Duboc)

Recebido por e-mail de Carmem

domingo, 17 de agosto de 2008

VERBOS NOVOS E HORRÍVEIS

Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios. Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez eu venha a topar. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.
Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde de já: pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém e nem compactuo com quem peracionalize. Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas operacionalizar, jamais.
O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na frente, eu dou um gás. Mas agilizar, desculpe, não posso, acho que matei essa aula.
Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.
Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que osterminados simplesmente em "ar".
Todos os dias, os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas. A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como vai admitir, digamos,"viabilizar"?
É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão. Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário, daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser". Problema seu. Me inclua fora dessa.


(Ricardo Freire)

Recebido por e-mail de Nelia.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quem sou eu?


Não venha me falar de razão,
Não me cobre lógica
Não me peça coerência,
Eu sou pura emoção,
Tenho razões e motivações próprias,
Me movimento por paixão,
Essa é minha religião e minha ciência.
Não meça meus sentimentos,
Nem tente compará-los a nada, deles sei eu,
Eu e meus fantasmas,
Eu e meus medos,
Eu e minha alma.
Sua incerteza me fere, mas não me mata.
Suas dúvidas me açoitam, mas não deixam cicatrizes.

Não me fale de nuvens,
Eu sou Sol e Lua,
Não conte as poças,
Eu sou mar, profundo, intenso, passional.

Não exija prazos e datas,
Eu sou eternidade e atemporal.
Não imponha condições,
Eu sou absolutamente incondicional.
Não espere explicações, não as tenho, apenas aconteço,
Sem hora, local ou ordem vivo em cada molécula,
Sou um todo e às vezes sou nada,
Você não me vê, mas me sente,
Estou tanto na sua solidão,
Quanto no seu sorriso.

Vive-se por mim,
Morre-se por mim...

Eu sou começo e fim,
E todo o meio.
Sou seu objetivo,
Sua razão que a razão ignora e desconhece,
Tenho milhões de definições,

Todas certas,
Todas imperfeitas,
Todas lógicas apenas em motivações pessoais,
Todas corretas,
Todas erradas,

Sou tudo, sem mim, tudo é nada.
Sou amanhecer, sou Fênix,
Renasço das cinzas,
Sei quando tenho que morrer,
Sei que sempre irei renascer,
Mudo protagonista, nunca a história.
Mudo de cenário, mas não de roteiro.

Sou música, ecôo, reverbero, sacudo.
Sou fogo, queimo, destruo, incinero.
Sou vento, arrasto, balanço, carrego.
Sou tempo, sem medidas, sem marcações.
Sou furacão, destruo, devasto, arraso.
Sou água, afogo, inundo, invado.
Sou vida, gero, cresço, multiplico...
E sou tijolo, construo, recomeço ...

Sou cada estação, no seu apogeu e glória.
Sou seu problema e sua solução.
Sou seu veneno e seu antídoto
Sou sua memória e seu esquecimento.
Eu sou seu reino, seu altar e seu trono.
Sou sua prisão, sou seu abandono e sou sua liberdade.

Sua luz, sua escuridão
E seu desejo de ambas
Velo seu sono ...
Poderia continuar me descrevendo
Mas já te dei uma idéia de quem sou...

Muito prazer, tenho vários nomes,
Mas aqui, na sua terra,
Chamam-me de.. AMOR

(Desconheço o autor)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

*Tudo --inclusive o ano-- Passa*

A capacidade de esquecer é o que existe de mais precioso sobre a face da terra, sob as nossas faces. Amar é indubitavelmente mais magnânimo, mas não é tão essencial quanto o esquecimento: é ele que nos mantém vivos. O amor torna a paisagem mais bonita, mas é o bálsamo curativo do esquecimento que nos faz ter vontade de abrir os olhos para vê-la. A paixão empresta um sentido quase mítico aos dias, mas é esquecer da excruciante tristeza perante a morte dela que nos torna aptos para nos encantarmos novamente dali a pouco.
Já esqueci amores inesquecíveis e sobrevivi a paixões que, tinha convicção, me aniquilariam se terminassem. Às vezes cruzo na rua com fantasmas que já foram muito vivos na minha história e não deixo de sentir uma certa melancolia por perceber que aquele rosto um dia pleno de significado se tornou tão relevante quanto um outdoor de pasta de dente. Algumas pessoas são apagadas da memória como filmes desimportantes. Sem maldade ou intenção; apenas esmaecem até desaparecer. Mas é mesmo impossível nos lembrar de todos os que passaram por nós: gente demais, espaço de menos. Da mesma forma que minha história está repleta de coadjuvantes e figurantes que, irrefletidamente, se auto-proclamavam protagonistas, eu devo ser a personagem cômica da história de alguém. Ninguém se esquiva da experiência constrangedora de bancar o bobo da corte no reino de outro.
Mas esse oco de significado não vem sem um certo pesar. É ruim notar que já não dizemos praticamente nada para quem importou tanto. Na verdade é dolorido ser olvidado: não é fácil encarar que não somos insubstituíveis e que nossa saída displicente abre uma possibilidade de entrada tão desejada por outros. Mas só nos desenroscamos e seguimos nosso rumo natural, em frente, quando eliminamos alguns seres que, caso contrário, nos prenderiam aos emaranhantes aguapés de recordações.
"Há pessoas que ficam doendo com a lembrança de outra pessoa, entra ano, sai ano, virando e revirando o caleidoscópio, olhando como caem e se dispõe as cores e os cristais do sofrimento" (Paulo Mendes Campos).
O passado deve ser mantido no lugar dele e não trazido nas costas feito mochila de viajante, lotado com os erros cometidos e alegrias jamais revividas. Para ser feliz é necessário pouca coisa além se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas. É útil também jamais perder de vista um detalhe, afixá-lo no espelho do banheiro, repetir como um mantra:absolutamente nada é pra sempre, nem sentimentos que parecem ser. Nunca mais haverá amor como aquele? Ótimo, porque o novo é tão imenso que seria um desperdício se algo se repetisse.
Todo mundo passa. E é bom que seja assim.
(Ailin Aleixo)
Recebido por e-mail de Madruga