quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SAWABONA - Sobre estar sozinho

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa.As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

PS: Caso tenha ficado curioso em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África e quer dizer "EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM". Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é "ENTÃO, EU EXISTO PRA VOCÊ"
(Flavio Gikovate)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Virou pelada? (Tânia Fusco)

Só depois de ter filhos homens consegui entender a magia do futebol e a paixão da torcida. É cega, sem cão guia. Não enxerga um palmo adiante. Justifica tudo. Odeia de morte os adversários. Aprova e celebra o vale tudo em campo, desde que favoreça o time do coração. Gol de mão a favor é sorte, contra é putaria grave. Se o time está ruim, derruba o técnico. Contrata outro e renovam-se as esperanças. Artilheiro que troca de time é traíra. Se voltar, é herói. Campeonato perdido é uma tragédia. Mas a dor passa logo, porque vem nova temporada e, claro, começa tudo de novo.
A razão da torcida é burra. Empurra no grito até time de perneta porque traz na alma a paixão pelo escudo.
Não é muito diferente na política. É só dar um rolé nos comentários dos blogs para ver explícita a paixão da torcida. Resiste e justifica tudo. Da cueca à quebra do sigilo. Já absorveu completamente malas e mensaleiros. Segue fiel, raivosa e acusadora. “Antes de nós, outros fizeram. É jogo das elites. E a privatização de FHC? E o sigilo do painel do ACM? Minha dança virou escândalo porque sou gorda, de cabeça branca e do PT”. Morrem secos, mas não admitem os desacertos de hoje, do time do coração.
Aí é que mora o perigo. Na cegueira. O que devia provocar indignação generalizada fica reduzido à guerra de torcida. Mas no meio desse embate (ou seria empate?) das torcidas organizadas tem um país e um povo tentando carregar no peito o desgastado escudo dos princípios. Poucos que sejam. Os básicos. Não pode roubar, não pode matar. Mentira serve para esconder coisa errada.
Papai e mamãe nos ensinaram: não é porque o outro errou que a gente pode errar também. Lei tem ser cumprida por todinhos da silva – pobre, remediado e rico, nascido na elite ou emergente instalado. Não concorda, faz campanha contra, protesta, luta para mudar. Mas, enquanto estiver valendo tem de cumprir. Simplório, mas real. Não foi com esse discurso que o PT criou corpo e com o santo voto de mais da metade do eleitorado chegou ao poder?
Peraí. A lei nos dá até a folga de silenciar para não se incriminar. Mas mentir continua sendo crime, quando esconde delitos. Boca fechada é uma coisa. Mentir é outra. Seres humanos no exercício de funções públicas – pequenas ou grandes – não podem, digamos, falsear a verdade e descumprir leis.
As torcidas que me perdoem, mas a continuar a cegueira geral, podemos considerar que é perfeito o ceticismo expresso pelo sociólogo experimentado. A diferença entre uns e outros é a seguinte: a direita rouba para si e dá o troco para a causa. A esquerda rouba para a causa e fica com o troco para si. O povo e o país que se danem.


(Tânia Fusco é jornalista)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Brasil

Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar: O que houve, meu Brasil brasileiro? Perguntei-lhe! E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas:
Estou sofrendo. Vejam o que estão fazendo comigo... Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores. Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante. Onde anda a liberdade, onde estão os braços fortes? Eu era a Pátria amada, idolatrada. Havia paz no futuro e glórias no passado. Nenhum filho meu fugia à luta. Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil. Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.

Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim. Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado. Pensei... Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes? Pensei mais... Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz? Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso e mudo, como uma criança dormindo em seu berço esplêndido.

(Redação de uma aluna de Joinvile de Colégio Público)