sábado, 4 de dezembro de 2010

Dê coração de Natal


Enfeite a árvore de sua vida
com guirlandas de gratidão!
Coloque no coração laços de cetim rosa,
amarelo, azul, carmim,
Decore seu olhar com luzes brilhantes
estendendo as cores em seu semblante
Esta é a sua roupa para o Natal

Em sua lista de presentes, em cada caixinha,
embrulhe um pedacinho de amor, carinho,
ternura, reconciliação, amizade e perdão...

Tem presente de montão
no estoque do nosso coração e não custa um tostão!
A hora é agora!
Comece a embalar os presentes!
Vamos! Enfeite seu interior!
Seja diferente! Seja reluzente!

(Cora Coralina)

sábado, 20 de novembro de 2010

CHIQUE

Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje. A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas. Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro Italiano. O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.
Chique mesmo é quem fala baixo. Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.
Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio. Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta.
Chique mesmo é parar na faixa de pedestre É evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.
Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador. É lembrar do aniversário dos amigos.
Chique mesmo é não se exceder jamais! Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.
Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor. É "desligar o radar" quando estiverem sentados à mesa do restaurante, e prestar verdadeira atenção a sua companhia.
Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.
Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite! Mas para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos retornar ao mesmo lugar, na mesma forma de energia. Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não te faça bem.
Lembre-se: o diabo parece chique, mas o inferno não tem qualquer glamour! Porque, no final das contas, chique mesmo é ser feliz!
Investir em conhecimento pode nos tornar sábios... mas amor e fé nos tornam humanos!
(Gilka Aria)

sábado, 13 de novembro de 2010

O Navio Negreiro, Tragédia no Mar (VI)

Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!......
Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

(Castro Alves)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Você tem experiência?

Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado. Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora, já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva, e acabei me viciando.

Já roubei beijo, Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro melhor amigo. Já confundi sentimentos, peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais dificeis de se esquecer.

Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. Conheci a morte de perto, e agora anseio por viver cada dia. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e laranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pro ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.

Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, Mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita:
"- Qual sua experiência?" Essa pergunta ecoa no meu cérebro: "- experiência...experiência..." Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!


(Marcus Erick - em um processo de seleção da Volkswagen)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Receber emails faz bem a saúde

Certa vez recebi uma mensagem a qual dizia que receber e-mails faz bem à saúde. Inclusive parece que isto já foi até comprovado. Se isto tem algum embasamento científico não sei, mas se eu olhar para os meus sentimentos não tenho dúvida alguma de que isto é uma realidade.

Fico impressionado por conhecermos pessoas com disposição e disponibilidade para serem generosas e afetivas, dizendo-nos palavras de conforto, ajuda e incentivo. Quem não gosta do computador é porque ainda não se familiarizou com as possibilidades de aconchego que ele pode proporcionar.
Já me disseram que ele não substitui um bom abraço. Mas vou lhes dizer que nas últimas semanas tenho me sentido muito abraçado. São pessoas que me encaminham poemas, músicas e crônicas.
Chamam isto de amizade virtual???? Pois vou lhes dizer que algumas pessoas de virtual não têm nada, pois já colocaram no concreto, de maneira palpável, seu afeto. Onde eu poderia imaginar uma coisa assim? Em pouco tempo muitas pessoas entraram no meu computador, deram o seu recado e saíram.
Outras se mantém constantes e já não fazem somente parte da agenda do computador.

Confesso que ocupam um lugar cativo no meu coração. Espero suas mensagens como se eu fosse um adolescente a espera dos "amigos". Se isto realmente é coisa de adolescente vou lhes dizer que para algumas coisas não deveríamos crescer nunca! Lógico, como tudo na vida, a intensidade e a freqüência com que usamos este recurso, este tipo de possibilidade de encontro e relacionamento, devem ser levados em consideração.
O inesperado de sermos surpreendidos com uma mensagem carinhosa que vem carregada de afeto causa uma verdadeira corrente interna de energia, a qual pode, em muitos momentos, ser terapêutica. Num determinado momento pode até parecer enfadonha ou sem propósito, extensa demais, demorada demais para "abrir", mas podem ter certeza que quando você menos espera lá estará você precisando daquela palavrinha ou daquela imagem. Às vezes você já nem espera um retorno e de repente lá está a mensagem que tanto esperava.
Você pode até dizer que também recebemos muita porcaria através do computador. Mas não é assim também na vida? Nossa tarefa é fazermos a seleção do que é bom ou ruim.
O que sei é que não tenho esquecido muitos nomes devido a duas palavras fundamentais: iniciativa e investimento.
Estas pessoas passaram a ter espaço garantido na minha vida. Algumas vezes fica difícil responder a todos na hora em que se quer. Mas estou certo que vale a pena dedicarmos parte do nosso tempo para espalhar carinho e amor com um simples comando de enviar.
(desconheço o autor)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quando a boca cala, o corpo fala

O resfriado escorre quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói.
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza
O coração enfarta quando chega a ingratidão.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a"criança interna" tiraniza.
A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.

Preste atenção!
O plantio é livre, a colheita, obrigatória ...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

FOME, SEDE E VONTADE DE LER

Os biólogos, cientistas, cientificistas - enfim, qualquer estudioso do corpo humano - não cansam de afirmar e reafirmar a perfeição do corpo humano. A mais completa máquina já criada. O complexo sistema de células, órgãos, substâncias que sintetizam a perfeição. Pois tratemos de discordar. O corpo necessita de combustíveis. Se precisamos de água, temos sede. De comida, temos fome. Nunca paramos de respirar. Por que nos falta uma necessidade de ler? Alias, não há sequer um nome pra isso. Simplesmente “a necessidade de ler”. Algo como a manutenção da intelectualidade, ou da saúde do cérebro. Ler. Ler como quem mata a sede. Como quem avança sobre um prato de comida. Um copo de água bem gelada e uma Clarice. Uma lasanha e um Machado. Para todos os dias, arroz, feijão e Allan Poe.
A falta de leitura deveria ser retratada em fotografia premiada pela National Geographic. Concorrentes do “Foto do ano de 2004”: O menino faminto da Etiópia, a baleia encalhada da Antártida e o Sem-livro do Brasil. Deveria estar estampado na cara do sujeito: “Sou subletrado”.Não se justifica com a situação do nosso país. Não se trata aqui da falta de incentivo e de educação, já notória e discutida. Mas de atitude.Os jovens - ah, sempre os jovens – não conseguem, ou não querem, enxergar o benefício da leitura. Qualquer leitura. E os jovens crescem, ou já cresceram, subletrados. Daí a pergunta: E se houvesse uma necessidade física? Penso que ainda há o que mudar na estrutura humana. Que tal essa dica? Hein! Na falta de uma terminologia melhor, fica a “fome de leitura”, ou a FOMURA. O menino grita: “Manhêêê, to com uma fomura danada”. E ela vem correndo com a Ruth Rocha que é pro menino parar de reclamar. O pai, no meio da noite, acorda com o choro do bebê. Dá a mamadeira, troca a fralda e lê o Ziraldo enquanto o neném não consegue sozinho. O casal de namorados vai sair a noite. Jantar, choppinho ou leitura? O rapaz mais afoito sugeriria um João Ubaldo. O divorciado um Nabokov. O mais esperto um Vinícius (sim, elas ainda adoram). E a combinação vinho, massa e Drummond? Irresistível.
O sonho enfim se concretizaria com o obeso-literato. Aquele que, de madrugada, assalta a estante. Acha que não faz mal um Parnasianismozinho durante as refeições. Vai ao médico, o letricionista, que lhe passa uma dieta a base de romance. Nada muito pesado. Depois das 20 horas, só Sidney Sheldon. Mas cai em tentação e é flagrado com “Crime e Castigo” nas mãos. A família se preocupa. Tornou-se um livrólatra. Só o L.A. poderá salvá-lo. Nas reuniões com o grupo de viciados em literatura, ele conta sua saga: “Bem, comecei aos 10 anos. Como todo mundo. Fadas, chapéus, narizes que cresciam. Depois eu parti pros livros menores. Mas quando você menos espera, já está devorando um Jorge Amado numa sentada só”. Um “ooh” ecoa na sala. Senhoras comentam entre si. “Tão novinho e tão letrado né!”Bibliotecas lotadas. Um silêncio ensurdecedor. Filas enormes para entrar. É muita gente morrendo de fomura. Consegue uma mesa, pede o menu.- Por favor, me vê duas Cecílias. E pro menino pode ser um Lobato, que ele adora!!- Senhor! Nossas Cecílias acabaram.- O quê? E o que você sugere?- Nosso Eça é legítimo, senhor! E temos Camões
- É que os portugueses são caros né! E meu médico me proibiu Camões durante a semana. - Algum Andrade?- Não sei. Não sei. To indeciso ainda.Depois de alguns minutos pensando e testando a paciência do rapaz que lhe servia...- Ah, vou de Paulo coelho mesmo que é só pra matar a fomura.


(Fabiano Cambota é líder e vocalista da Banda Pedra Letícia)



sábado, 3 de julho de 2010

A criança que fui chora na estrada

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

(Fernando Pessoa)

sábado, 12 de junho de 2010

SE É PAIXÃO ME NEGO

Se é paixão, me nego.
Já resvalei a alma em pêlo, nesse áspero despenhadeiro.
Se é paixão, não quero.
Conheço seus espinhos de mel,
sei aonde conduz embora prometa os céus.
Se é paixão, desculpe-me, não posso.
Conheço suas insônias e a obsessão.
Se é paixão me vou, não devo...
não adiantam teus apelos.
Resistirei, porque aí morri mil vezes.
Paixão é arma de três gumes,
e ao seu corte estou imune.
Se é paixão, me nego e não receio que me acuses
de medo.
Do desvario conheço todos os segredos.
Se é paixão recuso-me e sinto muito,
pois foi a custo que saí do labirinto.
(Afonso Romano Sant'Anna)


ENTREVISTA

Telefonam-me do jornal:
-Fale de amor-diz o repórter, como se falassedo assunto mais banal.
-Do amor? -Me rio informal.
Mas ele insiste:-Fale-me de amor-sem saber, displicente,que essa palavra é vendaval.
-Falar de amor?-Pondero: o que está querendo, afinal?
Quer me expor no circo da paixão como treinado animal?
-Fala...-insiste o outro - Qualquer coisa.
Como se o amor fosse“qualquer coisa”prá se embrulhar no jornal.
-Fale bem, fale mal,uma coisa rapidinha-ele insiste,
como se ignorasse que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.
Ele perguntando eu resistindo,
porque em matéria de amor e de entrevista
qualquer palavra mal dita é fatal.
(Afonso Romano Sant'Anna)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Publicidade

Campanha publicitária do CityBank espalhada pela cidade de São Paulo através de Outdoors, em 2009.

"Crie filhos em vez de herdeiros."
"Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete."
"Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela."
"Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama."
" Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."
"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"
"Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos."
"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."

"Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

AMOR

Não existe dificuldade que amor bastante não possa conquistar;
Nem enfermidade que bastante amor não possa curar;
Não há porta que não se abra, com bastante amor;
Nem abismo que, com bastante amor, não se possa atravessar;
Nem muro que, com bastante amor, não se possa destruir;
Nem pecado que, com bastante amor, não se logre redimir.

Não importa quão profundas raízes tenha o problema,
Nem o desespero das perspectivas, nem o turvo do conflito,
Nem a monstruosidade do erro cometido.
Com bastante amor, tudo se dissolverá;
Se você pudesse apenas amar suficientemente,
Tornar-se-ia o Ser mais feliz e mais poderoso do mundo.
(Emmett Fox)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Tenho medo da palavra Verdade

Tenho medo da palavra verdade. É tão crua. Parece feita de faca. A palavra verdade não permite o erro, daí não conhecer o perdão.
A verdade, se existe, deve ser exagerada demais. É maior que o mar. O mar tem margens e a verdade não.
A verdade não possui fronteiras. A verdade não permite perguntas. A verdade é uma resposta quase falsa. A verdade invade....

Fui criado por via das dúvidas. Quando adoecia, minha mãe chamava o farmacêutico, por via das dúvidas. Mas, por via das dúvidas, acendia uma vela. Por via das dúvidas escaldava um chá. Por via das dúvidas mandava benzer. E eu, por via das dúvidas, voltava a ter saúde. A dúvida me salvou. As pessoas que cismam ter encontrado a verdade me assustam.

(Bartolomeu Campos de Queirós)


"Da covardia que não aceita novas verdades
Da preguiça que só aceita meias verdades
Da arrogância que pensa saber toda a verdade
Ó Senhor, livra-nos."
(Arthur Ford)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dois Poemas de Adélia Prado

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


A SERENATA

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natal como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?


(Adélia Prado)

*************************************************************

Violência contra a mulher é crime.
O silêncio é cúmplice da impunidade.
Denuncie.
Ligação Gratuita: Nacional nº 180

terça-feira, 2 de março de 2010

SAUDADE

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo.E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
OLHA O COMPADRE AQUI, GAROTO! CUMPRIMENTA A COMADRE.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minhamão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
MAS VAMOS NOS ASSENTAR, GENTE. QUE SURPRESA AGRADáVEL!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha, geralmente uma das filhas e dizia:
GENTE, VEM AQUI PRA DENTRO QUE O CAFé ESTá NA MESA.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos,leite... tudo sobre a mesa. Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade... Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa.Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte danoite.
O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDãO.
Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa: Vamos marcar uma saída? ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas.Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores. Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!

(José Antônio Oliveira de ResendeProfessor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, doDepartamento de Letras, Artes e Cultura,da Universidade Federal de São João del-Rei).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Milágrimas


Em caso de dor ponha gelo
mude o corte de cabelo
mude como modelo
vá ao cinema
dê um sorriso ainda que amarelo,
esqueça seu cotovelo

se amargo foi já ter sido
troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério deixe os critérios
siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre

caso de tristeza
vire a mesa
coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima
faça cena
cante as rimas de um poema
sofra penas
viva apenas sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena
reze um terço
caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre

mas se apesar de banal chorar for inevitável
sinta o gosto do sal do sal do sal
sinta o gosto do sal gota a gota,
uma a uma duas três dez cem mil lágrimas
sinta o milagre a cada mil lágrimas sai um milagre
cante as rimas de um poema
sofra penas
viva apenas sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena
reze um terço
caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre

(Alice Ruiz e Itamar Assumpção)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

AMARRA O TEU ARADO A UMA ESTRELA


Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus
(Gilberto Gil- 1988)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LEMBRETE DO QUINTANA

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo, pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.'
Mário Quintana

*******************************************************************

Caráter é o que somos. Reputação é aquilo que os outros pensam que somos.
As circunstâncias entre as quais você vive determinam sua reputação.
A verdade em que você acredita determina seu caráter.
A reputação é o que acham que você é.O caráter é o que você realmente é...
A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova.
O caráter é o que você tem quando vai embora...
A reputação é feita em um momento.
O caráter é construído em uma vida inteira...
A reputação torna você rico ou pobre.
O caráter torna você feliz ou infeliz...
A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura.
O caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus.
(William Davis)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Síntese da Felicidade

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus Não
Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa Um violão Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade Poesia Completa Editora Nova Aguilar - 2002

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

MUNDO MODERNO


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutáias, majestoso manicômio.
Meu monólogo, mostra mentiras, mazelas, misérias,massacres, miscigenação, morticínio maior, maldade mundial.
Madrugada... matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna, monta matumbo malhado, munido machado, martelo... mochila mucha,margeia mata maior. Manhãzinha move moinho moendo macaxeira, mandioca. Meio dia mata marreco... manjar melhorzinho. Meia noite mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua mas monocórdia, mesmice.
Muitos migram mascilentos, maltrapilhos, morarão modestamente: malocas metropolitanas; mocambos miseráveis, menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre... mundo maligno,misturando mendigos maltratados... menores metralhados, militares mandões, meretrizes marafonas, mocinhas, mera meninas... mariposas, mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas... mundo medíocre.
Milionários montam mansões magníficas, melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos magnatas manobrando milhões mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise. Mundo maluco, máquina mortífera,mundo moderno melhore, melhore mais, melhore muito, melhore mesmo.
Merecemos... maldito mundo moderno, mundinho merda.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ANO NOVO



Vamos renunciar:
À pressa que tanto atrapalha
A impaciência que tanto prejudica
Ao mau-humor que nos incomoda
À palavra inoportuna que a todos magoa
À covardia que nos imobiliza
Ao pessimismo que nos paralisa
Ao rancor que tanto fere
Ao desprezo que a todos toca
Ao descompromisso que,
por onde passa, vai deixando
marcas históricas...
e muito mais.


Que no ANO NOVO, todos nós juntos, anunciemos:
O compromisso com a felicidade
O exercício da alegria e do prazer
A nossa capacidade transformadora
A nossa inquietação com o estabelecido
A consciência de nossos direitos e de nossos deveres
A nossa capacidade de sonhar
O rompimento com antigos paradigmas
A conquista da autonomia
A formulação de novas crenças
A nossa condição se Ser Inacabado
A conquista da autodisciplina
O nosso contínuo estado de Aprendiz
O nosso infinito Conjunto de Possíveis
A conquista do auto-desenvolvimento
A nossa potencialidade de SABER
O nosso desafio de FAZER
A nossa viagem em direção ao SER
E muito mais
A nossa Cidadania
O nosso Amor
O encontro com a PAZ.