domingo, 21 de fevereiro de 2010

Milágrimas


Em caso de dor ponha gelo
mude o corte de cabelo
mude como modelo
vá ao cinema
dê um sorriso ainda que amarelo,
esqueça seu cotovelo

se amargo foi já ter sido
troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério deixe os critérios
siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre

caso de tristeza
vire a mesa
coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima
faça cena
cante as rimas de um poema
sofra penas
viva apenas sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena
reze um terço
caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre

mas se apesar de banal chorar for inevitável
sinta o gosto do sal do sal do sal
sinta o gosto do sal gota a gota,
uma a uma duas três dez cem mil lágrimas
sinta o milagre a cada mil lágrimas sai um milagre
cante as rimas de um poema
sofra penas
viva apenas sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena
reze um terço
caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre

(Alice Ruiz e Itamar Assumpção)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

AMARRA O TEU ARADO A UMA ESTRELA


Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus
(Gilberto Gil- 1988)