quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fazer Renascer o Natal

     O melhor da festa é esperar por ela, diz o provérbio. O melhor do Natal é ter passado por ele, sem ter muito sem dizer. É insuportável a fissura, a loucura e o desequilíbrio desencadeados pelas festas de fim de ano. O consumo e compras compulsórias de produtos, o apetite compulsivo de comilanças, a máscara da alegria estampada no rosto para encobrir o bolso furado, a corrida aos espaços de lazer, as estradas engarrafadas com mortes no trânsito e pedágios caríssimos, as filas intermináveis nos supermercados, os sinos de papel envoltos nas fitas vermelhas dos shoppings centers, aquela mesma musiquinha marota, tudo satura o espírito.
     Seria este anticlima um castigo divino à nossa reverência à figura de Papai Noel?
Natal é pouco verso e muito reverso. Em pleno trópico e no verão, nossa imitação enfeita de neve de algodão a árvore de luzinhas intermitentes. O estômago devora castanhas, nozes, avelãs e amêndoas, quando a saúde pede saladas, legumes e principalmente jejuns e purificações.
     Já que o espírito arde de sede daquela Água Viva do poço de Jacó (João 4), afoga-se o corpo em álcool e gorduras buscando, em vão, alimentar o vazio existencial. A gula de Deus busca, em vão, saciar-se no ato de se empanturrar na mesa.
     Talvez seja no Natal que nossas carências fiquem mais expostas. Damos presentes sem nos dar, sem cuidarmos de nós, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos a mercadoria um valor que nem sempre reconhecemos nas pessoas. No íntimo, os verdadeiros buscadores, estão inclinados à simplicidade da manjedoura. O mal estar decorre do fato de nos sentirmos mais próximos dos salões de Herodes, de nossas ilusões, medo e de sonhos que desistimos
     No Brasil, este Natal é de Reis ?magros?. A nação, condenada a sustentar todo tipo de parasitas, corruptos, governantes e economistas que sacrificam o povo, dá as costas às alegrias do presépio para trilhar, com recessão, salários diminutos e tributos aumentados; instituições incompetentes e falidas que cuidam de legislar a seu favor, o caminho do Calvário.
     Sem que fôssemos consultados, o Brasil foi vendido ao capital da pirataria especulativa, que saqueia nossas bolsas, quebra nossas pequenas e médias empresas, leiloa nosso patrimônio público, dilapida nosso sistema de ensino e gangrena o da saúde, segurança e "justiça". E ainda nos insistem em nos convencer de que esta é a melhor rota para o futuro e que devemos votar naqueles que seqüestram nossos anseios de felicidade.
     Mudemos nós o Natal. Abaixo o Papai Noel, viva o Menino Jesus! Em vez de presentes, presença ? junto à família, aos que sofrem, aos enfermos, aos soropositivos, às famílias das vitimas de crimes, às crianças de rua, aos dependentes de drogas, aos deficientes físicos e mentais, aos excluídos.
     Façamos da ceia, cesta a quem padece de fome e do abraço laço de solidariedade a quem clama por justiça. Instalemos o presépio no próprio coração e deixemos germinar Aquele que se fez pão e vinho para que todos tivessem vida com a fartura e a alegria.
     Abandonemos a um canto, a árvore morta coberta de lantejoulas e plantemos no fundo da alma uma oração que sacie nossa fome de transcendência.     Deixemo-nos, como Maria, engravidar pelo espírito de Deus. Então, algo de misteriosamente novo haverá de nascer em nossas vidas.
Texto de Frei Beto

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.

Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…

Rubem Alves – Educador e escritor.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Saudação ao amanhecer

Concentra-te neste dia que desponta!
Pois ele é vida. A própria vida da vida.
Em seu breve curso jazem todas as verdades e realidades de tua existência:
a felicidade de crescer,
a glória de agir,
o esplendor da beleza.
Pois o dia de ontem é apenas um sonho.
E o amanhã uma visão.
Mas o dia de hoje bem vivido,
torna cada dia passado um sonho de felicidade.
E cada amanhã uma visão de esperança.
Concentra-te portanto neste dia,
Neste dia maravilhoso que desponta!
Esta é a saudação a aurora.
(William Osler)
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reflexão

A paciência é uma qualidade fugaz.
Queremos o que queremos quando queremos.
Felizmente, nossas vontades só são realizadas no momento certo.
Mas a espera nos dá a impressão de que nossas preces não foram ouvidas.
Precisamos acreditar que a resposta virá na hora certa.
Já pensou como nossas vidas seriam diferentes hoje se os pedidos de semanas, meses, anos atrás tivessem  sido atendidos na mesma hora?
Cada um de nós percorre um caminho único, com lições especiais.
Assim como um bebê precisa engatinhar antes de andar,
nós temos de ir devagar, dando os passos certos rumo ao crescimento.
A frustração só existe porque nosso relógio funciona num tempo diferente do de Deus.
Mas podemos ter certeza de que nossas preces
serão atendidas algum dia, em algum lugar, e para o nosso bem.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços meu pecado de pensar.

Clarice Lispector

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pensamento



"Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi "feliz".

Eles me disseram, que eu não entendi a pergunta... e eu lhes disse que eles não entendiam a vida."

=John Winston Ono Lennon=
1940-1980,Inglaterra.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O que mais te surpreende na Humanidade?

Perguntaram ao Dalai Lama…

- O que mais te surpreende na Humanidade?

E ele respondeu:


- Os homens… Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.

sábado, 23 de julho de 2011

Terceira Idade

1- Não se aposente da vida para se tornar a praga da família.
A vida é atividade, e o verdadeiro elixir da eterna juventude é o dinamismo. Não despreze as ocupações enquanto tiver energia para as lutas cotidianas. SE não tiver nada pra fazer vá caminhar, passear no shopping, jogar baralho na praça..qualquer coisa, menos aporrinhar os outros!

2 - Seja independente e preserve a sua liberdade, mesmo que seja dentro de um quartinho.
Quem renuncia ao próprio lar, obriga-se a andar na ponta dos pés, para evitar atritos com noras, genros, netos e outros parentes. Se possível more num flat...
MELHOR USAR SUAS ECONOMIAS PARA TER UM RESTO DE VIDA FELIZ!... NÃO ECONOMIZE NO ITEM “MORADIA”... a próxima vai ser a última e DEFINITIVA!...
Aproveite a penúltima com tudo a que TEM DIREITO!...

3- Mantenha o governo da sua própria bolsa.
Ajude os seus filhos financeiramente, na medida das suas posses; reserve uma parte para emergências. Tenha o melhor plano de saúde que puder pagar. Se você depender do governo, TÁ NO SAL!

4 - Cultive a arte da amizade como se fosse uma planta rara, cercando os familiares e AMIGOS de cuidados, como se fossem flores.
Se a sua memória estiver falhando, anote numa agenda sentimental as datas mais importantes das suas vidas, e compartilhe com eles a alegria de estar presente.
Como você é um velho do século XXI, aprenda a mexer com a Internet: programe todos os aniversários em seu e-mail... ele informará a você com antecedência... e você nunca mais esquecerá nada!

5 - Cuide da sua aparência e seja o mais atraente possível.
Não seja um daqueles velhos relaxados, que exibem caspa na gola do paletó e manchas de gordura na roupa, que revelam o cardápio da semana.
Nunca despreze o uso de água e sabão.
Vá ao salão de beleza uma vez por mês, pelo menos: a moça vai fazer sua unha, seu pé, cabelo e barba... não tem preço ficar ela agradando-lhe por uma gorjeta! VISTA-SE COMO UM LORD!
NADA DAQUELAS BERMUDAS XEXELENTAS, MOLETONS ROSAS E SAPATINHOS DE VELHO...

6 - Seja cordial com os seus vizinhos.
Evite implicar-se com o latido do cachorro, o miado do gato, o lixo fedorento na calçada, ou o volume do rádio. Um bom vizinho é sempre um tesouro, especialmente se os parentes morarem distantes.
SEJA ESPERTO: USE UM MP3 e OUÇA MÚSICA COM FONES DE OUVIDO PARA SE LIVRAR DOS BARULHOS QUE LHE CHATEIAM... UM FRANK SINATRA, JOBIM, CHARLIE PARKER, NAT KING COLE...ACALMARÃO VOCÊ E O FARÃO LEMBRAR DOS BONS TEMPOS... SEM SAUDOSISMO...
SE ESTIVER DEPRESSIVO ATAQUE DE ELVIS, BEATLES, CREEDENCE, ROLING STONES... TUDO DO NOSSO TEMPO

7 - Cuidado com o nariz, e não se intrometa na vida dos filhos adultos.
Eles são seres com cérebro, coração, vontade, e contam com muitos anos para cometerem os seus próprios erros. FECHE A MATRACA!

8 - Fuja do vício mais comum da velhice, que é a "presunção".
A longa vida pode não lhe ter trazido sabedoria. Há muitos que chegam ao fim da jornada, tão ignorantes como no início dela.
FAÇA DE CONTA QUE VOCÊ NUNCA VIVEU NADA! EXPERIÊNCIA NÃO SE PASSA! FIQUE SÓ OBSERVANDO OS ERROS E NÃO SE META, A MENOS QUE ALGUÉM PEÇA A SUA OPINIÃO, RESISTA À VONTADE DE DA-LA... TUDO O QUE É DE GRAÇA, NÃO TEM VALOR!
Deixe que a "humildade" seja a sua marca mais forte.

9 - Os cabelos brancos não lhe dão o privilégio de ser ranzinza e inconveniente.
Lembre-se de que toda paciência tem limite, e que não há nada mais desagradável do que alguém desejar a sua morte. Aprenda jogar xadrez, usar o MSN, ORKUT... OU OCUPE SUA MENTE COM OUTRAS COISAS! NÃO ENCHA O SACO DOS OUTROS

10 - Não seja repetitivo, contando a mesma história três, quatro, cinco vezes.
Quem olha só para o passado, tropeça no presente e não vê a passagem para o futuro.
FIQUE DE BOCA FECHADA E VOCE SERÁ UM SÁBIO!
LEMBRE-SE QUE VOCÊ TEM DOIS OUVIDOS E UMA BOCA SÓ: ISSO NÃO É POR ACASO!

(Desconheço o autor)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

AS POSSIBILIDADES PERDIDAS

Definitivo, como tudo o que é simples, nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais. "

(Martha Medeiros)



"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida, está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-se do sofrimento, também perde a felicidade."

(Mary Cholmondeley)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

REFLEXÕES

Fui criada com princípios morais comuns. Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação à segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido às batidas com os pés no chão quando uma determinada música era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo.

Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto.


Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, aos mais idosos, autoridades. Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.

Confiávamos nos adultos porque todos eram pais e mães de todas as crianças da rua, do bairro, da cidade.

Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo que meus netos um dia temerão. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos


Matar os pais, os avós, violentar crianças, seqüestrar, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidade de notícias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo comercial.

Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de indústrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade. Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem é ser otário. Pagar dívidas em dia é bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos. O que aconteceu conosco?

Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas. Crianças morrendo de fome. Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos recém saídos das fraldas. TV, DVD, vídeo-games...O que vai querer em troca desse abraço, meu filho?


Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais valem dois vinténs do que um gosto.

Que lares são esses? Jovens ausentes, pais ausentes. Droga presente. E o presente? uma droga!O que é aquilo? Uma árvore, uma galinha, uma estrela, ou uma flor? Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo?


Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que me fechei?

Quero de volta a minha dignidade, a minha paz.

Quero de volta a lei e a ordem.

Quero liberdade com segurança!

Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores!

Quero sentar na calçada e ter a porta aberta nas noites de verão.

Quero a honestidade como motivo de orgulho.

Quero a vergonha, a solidariedade.

Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho.

Quero a esperança, a alegria.

Teto para todos, comida na mesa, saúde a mil.

Quero calar a boca de quem diz: " a nível de", enquanto pessoa.

Abaixo o "TER", viva o "SER"!

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa. E definitivamente comum, como eu. Adoro o meu mundo simples e comum. Vamos voltar a ser "gente"? Discordar do absurdo. Ter o amor, a solidariedade, a fraternidade como base A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito...

Construir sempre um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.

Utopia? Não......hein?

Quem sabe?......se você e eu fizermos nossa parte e contaminarmos mais pessoas, e essas pessoas contaminarem mais pessoas..


(Sara Maria Binatti dos Anjos )

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quanto vale a sua vida?

Peça para um publicitário descrever um botão de camisa. Você ficará deslumbrado com tantas funcionalidades que ele vai achar para o botão e vai até mudar o seu conceito sobre o pobre botãozinho.

Peça para uma pessoa apaixonada descrever a pessoa amada, aquela pessoa bem "feiazinha" que você conhece desde a infância e vai até pensar que ele está falando de outra pessoa. O apaixonado enche a descrição de delicadezas, doçura e gentilezas, transformando a fera em bela em instantes.

Peça para o poeta descrever o sol e a lua, e você vai se encantar pelos poderes apaixonantes da lua, pela beleza do sol que irradia seus raios como se fossem gotas do milagre divino no arrebalde da tarde quente onde o amor convida os apaixonados para viver a vida intensamente.
Peça para um economista falar da economia mundial e tome uma lição de números e mercados, bolsas e câmbios oscilantes, inflação e mercados emergentes, e se não sair de perto, vai acreditar que, em breve, teremos a maior recessão da história e que a China é o melhor lugar do mundo para se viver agora,

Peça para uma pessoa desanimada ou depressiva falar da vida, do sol, da lua, dos botões, das rosas e do amor para você ver.  Pegue um banquinho e um lenço e sente-se para chorar. É só reclamação, frustração, dores, misérias e desconfiança geral. Você sente a energia lhe contaminando, vai fazendo mal, vai lhe deixando sem forças, porque os desanimados, os reclamões e depressivos tem o poder vampiresco de sugar energias do bem e transformar em medo. E o medo paralisa as pessoas de tal forma que fica difícil até o mais simples pensar.

E você? Como é que você descreve a sua vida?
Quem é você para você mesmo?
Como seria um comercial da sua vida?
Como você venderia o produto "você"?
Você é barato, tem custo acessível ou é daquelas figuras caras,
daquelas que não tem tempo para perder com a tristeza e com o passado? Você tem 1001 utilidades? aliás, você vive em que século mesmo?
São os seus olhos que refletem  o que vai na sua alma, e o que vai na sua alma se reflete na qualidade de vida que você leva.
É o seu trabalho que representa o seu talento, ou não?
Por isso, não tem outro jeito, seja o melhor divulgador de você mesmo, valorize-se, esteja sempre pronto para dar o seu melhor, com seu melhor sorriso, com sua melhor roupa, com seu melhor sentimento, com suas melhores intenções, com sua gentileza sempre pronta para entrar em ação. Seja Omo, Brastemp, Lux de luxo, e se for chocolate, que seja logo Godiva, suíço e caro, porque gente especial igual a você não existe em nenhum mercado, e tem que valer sempre mais.
Valorize-se! não importa o que você faz, importa sim como você faz. isso sim, faz toda a diferença

(Paulo Roberto Gaefke)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O MUNDO NÃO É MATERNAL

É bom ter mãe quando se é criança, e também é bom quando se é adulto.
Quando se é adolescente pensa que viveria melhor sem ela, mas é erro de cálculo. Mãe é bom em qualquer idade. Sem ela, ficamos órfaõs de tudo, já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco.

O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome. Não liga se viramos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.
O mundo quer que a gente fique horas no telefone, torrando dinheiro. Quer que a gente case logo e compre um apartamento que vai nos deixar endividados por 20 anos.
O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência, e estoure o cartão de crédito.

Mãe também quer que a gente tenha boa aparência mas está mais preocupada com o nosso banho, com o nossos dentes e nossos ouvidos, com a nossa limpeza interna.
Não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba.

O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar através. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso batimento. O mundo quer que sejamos lindos, sarados e vitoriosos, para enfeitar ele próprio, como se fôssemos objetos de decoração do planeta.
O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em casa. O mundo quer nosso voto mas não quer atender nossas necessidades. O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula, nos exclui O mundo não tem doçura, não tem paciência, não pára para nos ouvir. O mundo pergunta quantos eletrodomésticos temos em casa e qual é o nosso grau de instrução, mas não sabe nada dos nossos medos de infância, das nossas notas no colégio, de como foi duro arranjar o primeiro emprego.

Para o mundo, quem menos corre, voa.
"Quem não se comunica se trumbica.
Quem com ferro fere, com ferro será ferido."
O mundo não quer saber de indivíduos, e sim de slogans e estatísticas...

Mãe é de outro mundo. É emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática, chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção. Mãe sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto o mundo propriamente dito, exige eficiência máxima, seleciona os mais bem dotados e cobra caro pelo seu tempo. Mãe é de graça!!!

(MARTHA MEDEIROS)

Férias na Bahia

Placa na entrada do túnel de bambu, na saída do aeroporto de Salvador: Sorria, você está na Bahia. Nem precisava.
Com a partida de Jorge Amado e depois de Dorival Caymmi, foi-se uma boa parte do espírito da Bahia do século 20. A cidade cresceu e se modernizou, conseguiu integrar as suas manifestações mais primitivas, dos tambores, dos blocos afro e do próprio carnaval, à alta tecnologia dos trios elétricos e da indústria da alegria em que se transformou o turismo baiano.

Como já cantava Gordurinha nos anos 50, "pau que nasce torto não tem jeito morre torto, baiano burro garanto que nasce morto". Ou, como me disse Dorival Caymmi, quando lhe perguntei se ele queria ensaiar antes de um programa de TV: "Baiano já nasce ensaiado, meu filho."

Mas continuam vigorando os quatro tempos de qualquer atividade na Bahia: lento, lentíssimo, devagar-quase-parando e dorival-caymmi.

Carlinhos Brown desconstrói a lenda da preguiça local:
"Baiano é como avião a jato. Você olha ele de longe no céu, parece que está parado; chega perto e ele ... zum!"
Davi Moraes reclamou com a baianinha que ela havia posto açúcar no suco de laranja que ele pedira sem. E ela, toda dengosa: "Mexa não."

O que a alguns pode parecer exibicionismo, para os baianos, é apenas exuberância. Daí que eles não nascem, estreiam. E não morrem, saem de cena. Consequentemente, a Bahia não tem plateias, mas coadjuvantes. Não tem povo, tem elenco. É tal o sucesso da música baiana que se suspeita que a Bahia seja uma grande gravadora disfarçada de Estado.

Outro diferencial baiano vem da cultura do candomblé, uma religião sem pecado e sem culpa, onde os santos, as entidades, até intermedeiam romances e inspiram cantadas originais:
"Meu Oxóssi está doidinho pela sua Oxum."

Também se atribui à cultura do candomblé uma maior tolerância e liberdade sexual. Pode-se perguntar com naturalidade à amiga que diz que adora namorar:
"Menino ou menina?"
"Oxente, sou multimídia."

(Nelson Motta)

domingo, 1 de maio de 2011

Poema de Milarepa

A pintura dourada se desbota com o tempo,
as lindas flores do campo logo fenecem,
os pálidos raios da lua logo se devanecem,
o rio caudaloso dilui-se no mar,
o arroz que cresce no vale logo é colhido,
o filho querido cresce e logo se vai para sempre.

Isto mostra a transitoriedade de todas as coisas.
Isto prova a impermanência de todas as coisas.
Pense e você tomará consciência.

Estas são as comparações que canto,
espero que você se recorde sempre.
Preocupações e sofrimento sempre existirão,
então deixe-os de lado,
e viva segundo esta grande consciência.

domingo, 10 de abril de 2011

Descomplicação

Se eu tivesse que escolher uma palavra – apenas uma – para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos – e merecemos – ter. Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna. Amizade, por exemplo. Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as histórias que já nos contamos mil vezes – isso, sim, faz bem para a pele. Para a alma, então, nem se fala. Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma boa amizade consegue proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio. Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia – não importa – e a ficar em silêncio. Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso. Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada – faça qualquer coisa, mas ria. O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.

Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar. Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde sozinha. Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir. Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar. Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o Richard Gere... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que aconteça. E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma. E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição. O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica muito mais possível.
Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro 'Mulheres - Por que Será que Elas...', Edit.Globo

sexta-feira, 1 de abril de 2011

BUDISMO


Se você quer milagres, não procure o Budismo... O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.

Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo... O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.

Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo... Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.
Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo... Pois nele, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.
Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo....Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo. Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo... pois ele matará seu ego aqui e agora.
Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo...Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.
Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo... A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos. Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo... pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.
Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo... Ele o lançará no vazio.
Entretanto, ao praticar os ensinamentos do Buda, dentre inúmeras coisas inexplicáveis, você perceberá que ...
... milagres se sucedem, continuadamente;
... seus males sumiram, como que por encanto;
... sua vida melhorou, e você nem sabe bem o porquê;
... aconteceram ajudas misteriosas;
... você passou a se lembrar cada vez menos de você e cada vez mais dos outros;
... sua atenção no PRESENTE é cada vez mais viva;
... a RESPONSABILIDADE por seus pensamentos, palavras e atos cresceu, e continua crescendo, como nunca;
... a PRESENÇA de Deus inunda TUDO, até mesmo dentro do VAZIO que não tem nome.

Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma… Nada faz sentido neste mundo se não tocamos o coração de uma pessoa.

(Texto: André Luiz Barbosa)

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher - 8 de março

Mulher
Semente...
SER-mente...
SER que faz gente,
SER que faz a gente.

Mulher
SER guerreiro, guerrilheiro, lutador...
multimídia, multitarefa, multifaceta, multi-acaso...
Multicoração...
PARABÉNS MULHER!!!
Não pelo oito de março.
mas por ser o que és...
Humus da humanidade,
Raiz da sensibilidade.
Tronco da multiplicidade,
Folhas da serenidade,
Flores da fertilidade,
Frutos da eternidade...
Essência da natureza humana

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Violência contra a mulher é crime
http://www.mariadapenha11340.com.br/
Denuncie = 0800 280 08 04

terça-feira, 1 de março de 2011

Reformar o eu

Primeiro considera profunda e sinceramente se tens que reformar teu próprio interior. Se concluíres que sim, saibas, desde já, que não será tarefa fácil. Terás teu próprio eu como teu maior adversário nessa grande reforma. Se, mesmo assim, decidires que teu tempo de mudança chegou, não cometas o erro de tentar, porque tentar, apenas, é pouco! Faça ou não faça!
Entretanto, se te julgas suficientemente forte para vencer teu dragão interior, então, começa pelo coração! E não deixes pedra sobre pedra, sequer aqueles entulhos de sentimentos tão carinhosamente guardados para quando um dia possas vir a utilizá-los.
Desfaz-te dos antigos quadros que já nada dizem, apenas doem, pregados com pregos enferrujados na parede da alma... Abre as janelas de tuas aspirações para o sol da manhã de um novo dia de realizações e deixa a luz purificadora do sol das ousadias invadir os cantos escuros de tuas preocupações - por perigos, talvez imaginários - onde escondias tuas dores irreveladas.
Ouve os trinados dos pássaros de teus sonhos a te entoarem novas e reveladoras melodias. Abre a porta de tua mansão do passado, e vejas o caminho dos teus ideais abrindo-se em felizes e brilhantes futuros, enfeitados pelas flores das muitas alegrias que te esperam ao longo da jornada.
Caminha por ele. Não! Não leves nada! Não cedas à tentação de levar contigo aquela enganadora linda caixinha de veludo, que contém doces lembranças de um passado feliz. Ela será o teu veneno, e te fará verter lágrimas por algo que não pode ser revivido nem alterado, quando deverias sorrir pelo verdejante vale de alegrias que te aguarda e com as quais nem sonhas.
Abre as janelas de teus embolorados projetos há tanto adiados e deixa o frescor da brisa de novas metas estabelecerem novos rumos para tua vida. Pinta de cores novas e alegres teus ensombrecidos porões, e deixa que a luz de novas promessas de vida os ilumine e invadam os nichos de tuas reticências.
Não temas a noite silenciosa de tuas incertezas, nem as chuvas ocasionais de tuas tristezas. Elas virão, com certeza. Mas, noites podem ser belas, se, ao contrário de olhares para a escuridão que nada transmite, decidires olhar para o céu e contar estrelas, e vê-las como purpurinas com que Deus enfeita a festa da descoberta do encontro com teu próprio eu.
Chuvas podem ser revigorantes, se decidires não apenas olhar para os rios de tuas atribulações, transbordantes de preocupações, mas te detiveres a observar os novos ramos de esperança de vida que nascem após a tormenta.
Abre as portas daquele armário de espelhos, onde guardavas apenas os reflexos de tuas boas intenções, e olhando tua própria imagem refletida, faze valer a pena ser tu a única coisa de valor que vale a pena ser guardada ali. Desfaça-te de tudo o que possa ser apenas miragens, e vá à feira de novas aspirações, onde poderás adquirir novos adornos para tua alma.
Não te deixes iludir por muitos brilhos. Procura as coisas simples, porque serão sempre as mais verdadeiras. Sai de tua pálida estada nas sombras da saudade e da desesperança e vai para a luz irradiante do sol das novas perspectivas.
E quando estiveres caminhando pela estrada do encontro com teu próprio coração, olha, de vez em quando, para o alto, para o cimo das montanhas, porque é lá que nascerá, para sempre, a cada manhã, o raiar de um novo dia!
(Desconheço o autor)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O AMOR ATRAPALHA O SEXO

Resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor.
Comecei perguntando a amigos e amigas sua opinião. Ninguém sabe direito. As duas categorias se trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais "sutis" defendem o amor, como algo "superior". Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta.

Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa. O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo. Sexo é contra a lei, no fundo de tudo. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre sem tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão à posteriori pelos prazeres do sexo.

O amor vem depois. O sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam.

O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições; não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude.
O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.

Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão de domicílio.
Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em "doação". Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio ou veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também - tudo dependendo das posições adotadas.

Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do "outro"; o sexo, no mínimo, precisa de uma "mãozinha". Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mais sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes é uma masturbação. Sexo, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós. O sexo vem dos outros.

Não somos vítimas do amor; só do sexo. "O sexo é uma selva de epilépticos" (Nelson Rodrigues) ou "o amor, se não for eterno, não era amor" (NR). O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.
O sexo sempre existiu - das cavernas do paraíso até as saunas relax for men.
Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do século 12 e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema.
Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção, sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias. Não há "saunas relax" para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um "amorzinho" para iniciar. O amor está virando um hors-d'oeuvre para o sexo.
O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma certa "grandeza". O sexo sonha com as partes baixas. O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há "sexo seguro", mas não há camisinha para o amor.

O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo o sonho dos casados. A (O) amante sacia nossa fome de verdade, mata nossa nostalgia da animalidade.
Sexo precisa da novidade, da surpresa. O grande amor só se sente no ciúme (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo de esquerda (ou não, dependendo do momento político). Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta). E, por aí, vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... e-mails de quem souber para a redação.
(Arnaldo Jabor)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR

     O que acontece comigo, que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte, só porque alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco.? Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas.
E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis! Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso.
Nããão! Eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta.
O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades. Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez. Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres! É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida!
É mais! Se compravam para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça.
E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador três vezes. Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.
Aonde estão os sapateiros fazendo meia-solas dos tênis Nike? Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa? Quem arruma as facas elétricas? o afiador ou o eletricista? Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.
Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo! Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o
plástico, nem o nylon. A borracha só víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava.
Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo".
Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado... E precisamos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!!! Mas...por amor de Deus!
Minha cabeça não resiste tanto. Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real.
E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher, a mesma e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo. Tuuuudo! O que servia e o que não servia. Por que, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.
Acreditávamos em tudo. Sim , já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como
não guardamos o primeiro cocô.
Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar? Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?
Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos... Como guardávamos!! Tuuuudo!!! Guardávamos as tampinhas dos refrescos!! Como, para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro. Dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as
martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Tuuudo guardávamos! Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette até partidas ao meio se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave.
E as pilhas! As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa. Por que não sabíamos bem se se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais. Não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim.
As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis. Os jornais!!! Serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas para enrolar.
Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne!!! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, e as páginas dos almanaques para fazer quadros, e os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, e os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, e as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de bastos".
As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los tão-logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!!!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: Comam o sorvete e depois joguem o copinho fora, nós dizíamos que sim, mas, imagina que a tirávamos fora!!! As colocávamos a viver na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros,
as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.
E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. 
Ah!!! Não vou fazer!!!
Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis; também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objectos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer. Não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.
Não vou dizer que aos velhos se declara a morte quando apenas começam a falhar em suas funções, que aos cônjuges se trocam por modelos mais novos, que as pessoas a que lhes falta alguma função se discrimina o que se valoriza aos mais bonitos, com brilhos, com brilhantina no cabelo e glamour.
Esta só é uma crônica que fala de fraldas e de celulares. Do contrário, se misturariam as coisas, teria que pensar seriamente em entregar à bruxa, como parte do pagamento de uma senhora com menos quilômetros e alguma função nova. Mas, como sou lento para transitar este mundo da reposição e corro o risco de que a bruxa me ganhe a mão e seja eu o entregue...
(Eduardo Galeano -  Jornalista e escritor uruguaio)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Justo a mim me coube ser eu

Toda vez que minha avó paterna me dizia que o molde em que fui feita fora quebrado quando nasci, eu achava que ela estava me elogiando. Acreditava que somente eu era "única" no mundo. Aos poucos, fui percebendo meu engano. Primeiro, porque, em vez de me tornar diferente, o fato de ser uma criatura única era o que me igualava a todos os seres humanos. Entendi que é parte da nossa condição humana sermos indivíduos exclusivos. Dela ninguém escapa. Em segundo lugar, porque essa exclusividade - recebida com meu nascimento - não me foi dada assim de mão beijada. Nem veio pronta, nem tinha um manual.

Ela se parece com aquelas massinhas de modelar que, quando a gente ganha, ganha só a massa, não a forma, e o resultado é sempre o fruto de um longo processo de faz e desfaz.
Cedo percebi que jamais teria sossego e que teria muito trabalho. Típico presente de grego, uma armadilha. Encontrei eco para o meu espanto nas palavras de Mafalda, a famosa personagem de Quino, o cartunista argentino, no momento em que ela diz: "Justo a mim me coube ser eu!". Ser quem só a gente mesmo pode ser é quase uma desolação. Quem eu sou e deverei ser? Minha individualidade é um mistério.

Quantas vezes eu não preferi ser outra pessoa! Se não, pelo menos pensei senão seria melhor ter nascido em outra família, em outra época, com outra situação financeira, outra cara, outro corpo, outro temperamento. Ainda mais porque, aparentemente, sempre soube resolver a vida dos outros muito melhor do que a minha própria.

Para ser sincera, quando penso que o meu "eu" está aberto, o que sinto mesmo é um grande alívio. Se eu tivesse nascido pronta, não teria conserto. E se não houvesse remédio para os meus erros e uma chance para os meus fracassos? E se eu não pudesse mudar de ponto de vista, de gosto, de planos, de opinião? E se eu não tivesse escolhas nem alternativas?

Mas também vejo um lado sombrio em ser um projeto aberto: o de nunca ter certeza, sobretudo de antemão, de ter tomado a atitude certa, de ter feito a escolha mais apropriada - aquela em que não me traio.

Quando percebo que um gesto qualquer vai afetar o meu destino, sinto medo, angústia, suo frio, tenho vertigens, adoeço. Aí, a tentação de pegar carona na escolha dos outros ou no estilo de vida deles é grande, mas minha alma grita que não vai dar certo e me lembra que o meu molde foi quebrado, que ele é exclusivo.

Levei muito tempo para entender que minha exclusividade não está simplesmente em mim, na minha cor de olhos ou nos meus talentos mais especiais. Ela está sempre lançada adiante de mim como um desafio, como um destino a que tenho de desafio, como um destino a que tenho de chegar, como uma história que tem de ser vivida.

Minha exclusividade - eu mesma - virá apenas quando eu puder afirmar que a história que vim realizando só eu – e ninguém mais - poderia tê-la vivido.

É a isso que a personagem Amparo, no filme de Almodóvar "Tudo Sobre Minha Mãe", se refere quando afirma que ela é tanto mais autêntica quanto mais perto estiver daquilo que projetou para si mesma. Fala com orgulho e alegria, revelando, assim, que desvendou o mistério que envolve o problema de ser quem somos: autenticar nossa biografia. Avalizá-la.

Onde estou, senão no rastro da história que venho deixando atrás de mim, naquilo que vim fazendo e dizendo? Onde estou, senão nessa biografia que realizo e atualizo a cada instante por meio das minhas decisões e do meu empenho?
Hoje não importa mais se sou diferente dos outros, mas se faço alguma diferença neste mundo.


(DULCRE CRITELLI, professora de filosofia da PUC-SP, é autora dos livros "Educação e Dominação Cultural" e "Analítica de Sentido" e coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudo da Condição Humana)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


O último dia do ano não é o último dia do tempo.
Outros dias virão e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,farás viagens e tantas celebrações de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral, que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor, os irreparáveis uivos do lobo, na solidão.
O último dia do tempo não é o último dia de tudo.Fica sempre uma franja de vida onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,uma mulher e seu pé,um corpo e sua memória,um olho e seu brilho,uma voz e seu eco,e quem sabe até se Deus...Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.Teu pai morreu, teu avô também.Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte, mas estás vivo.
Ainda uma vez estás vivo, e de copo na mão esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,o recurso da bola colorida,o recurso de Kant e da poesia,todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano. As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida. A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
(Carlos Drummond de Andrade)