sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Monólogo das mãos

Para que servem as mãos?
As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever...

As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau, salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário; Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena; foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos, David agitou a funda que matou Golias; as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena; Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência; os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!

Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço o laço que os outros Judas não encontram.

A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda; o operário construir e o burguês destruir; o bom amparar e o justo punir; o amante acariciar e o ladrão roubar; o honesto trabalhar e o viciado jogar.

Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!

Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!

As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos; os bálsamos e os instrumentos de tortura, a arma que fere e o bisturi que salva.

Com as mãos tapamos os olhos para não ver, e com elas protegemos a vista para ver melhor.

Os olhos dos cegos são as mãos. E com as mãos os surdos-mudos falam.

As mãos na agulheta do submarino levam o homem para o fundo como os peixes; no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.

O autor do "Homo Rebus" lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida; a primeira almofada para repousar a cabeça, a primeira arma e a primeira linguagem.

Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.

A mão aberta, acariciando, mostra a bondade; fechada e levantada mostra a força e o poder; empunha a espada, a pena e a cruz!

Modela os mármores e os bronzes; dá cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento e da fantasia nas formas eternas da beleza. Humilde e poderosa no trabalho cria a riqueza; doce e piedosa nos afetos medica as chagas, conforta os aflitos e protege os fracos.

O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor, o melhor pacto de amizade ou um juramento de fidelidade. O noivo para casar-se pede a mão de sua amada; Jesus abençoava com as mãos; as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.

Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.

Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias.

E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.

Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo, são as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino.

E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára, o corpo gela e os sentidos desaparecem, são as mãos, ainda brancas de cera, cruzadas sobre o peito, que continuam na morte as funções da vida.
E as mãos dos amigos nos conduzem...
E as mãos dos coveiros nos enterram!

* Ghiaroni (Paraíba do Sul-RJ, 22/02/1919 — Rio de Janeiro-RL, 21/02/2008) foi jornalista e poeta.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Prece para todas as manhãs


Senhor, no silêncio neste dia que amanhece,
venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força.
Quero ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor, 
ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
Ver além das aparências Teus filhos como Tu mesmo os vê e,
 assim, não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda maldade.
Que só de bênção se encha meu espírito.
Que todos os que a mim se aconchegarem sintam a Tua presença.
Reveste-me de Tua beleza, senhor, 
e que no decurso deste dia eu Te revele a todos.




domingo, 1 de setembro de 2013

A história de Lily Braun

Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom

Ele me comia
Com aqueles olhos
De comer fotografia
Eu disse cheese
E de close em close
Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz

E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou

Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilingüindo toda
Ao som do blues

Abusou do scotch
Disse que meu corpo
Era só dele aquela noite
Eu disse please
Xale no decote
Disparei com as faces
Rubras e febris

E voltou
No derradeiro show
Com dez poemas e um buquê
Eu disse adeus
Já vou com os meus
Numa turnê

Como amar esposa
Disse ele que agora
Só me amava como esposa
Não como star
Me amassou as rosas
Me queimou as fotos
Me beijou no altar

Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz


(Edu Lobo)

domingo, 18 de agosto de 2013

Ah! Querem uma luz melhor que
a do Sol!
Querem prados mais verdes do que estes!
Querem flores mais belas do que estas
que vejo!
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontentam,
O que quero é um sol mais sol
que o Sol,
O que quero é prados mais prados
que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores
que estas flores -
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!

(Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos")

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos


sábado, 4 de maio de 2013

Quando eu flor

Quando eu flor.
Quando tu flores. 
Quando ele flor ...
Nós flores seremos.  
E o mundo florescerá. 

Que esta primavera perfume o seu coração com todos os aromas da alegria. 
Que o calor seja suave.
E que a brisa seja amena.
Que o perfume seja doce.
E que cada dia valha a pena.
Que estes três meses lhe renovem a paz, o amor, a saúde  e a força para seguir com os projetos da sua vida.
Deixe que a vida faça contigo, o que a primavera faz com as flores.
Encante - se!
Transborde cor!
Espalhe amor! 
Primavere - se.
🌷🌹🌷🌹🌷🌹🌷

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Profecia


"Algum dia há-de ser um novo dia!
Se realmente o tempo se renova...
Sepultado nesta cova de rotina, 
a ver o sol pousar sobre as colinas
em frente,
em vez de me entregar
ao sono paciente de morrer,
ponho-me a futurar o amanhecer.
E com toda a inquieta
seriedade sacra de um poeta
que descortina
a universal e própria salvação,
vejo na imprecisão
que a próxima alvorada
- ou ela, ou outra, ou outra, ou outra ainda -
dará por finda
esta luz monótona e cansada." 

Miguel Torga

terça-feira, 2 de abril de 2013

A PÁSCOA E SEUS SÍMBOLOS

O nome páscoa surgiu a partir da palavra hebraica "pessach" ("passagem"), que para os hebreus significava o fim da escravidão e o início da libertação do povo judeu (marcado pela travessia do Mar Vermelho, que se tinha aberto para "abrir passagem" aos filhos de Israel que Moisés ia conduzir para a Terra Prometida).Ainda hoje a família judaica se reúne par...a o "Seder", um jantar especial que é feito em família e dura oito dias. Além do jantar há leituras nas sinagogas.Para os cristãos, a Páscoa é a passagem de Jesus Cristo da morte para a vida: a Ressurreição. A passagem de Deus entre nós e a nossa passagem para Deus. É considerada a festa das festas, a solenidade das solenidades, e não se celebra dignamente senão na alegria [2] .Em tempos antigos, no hemisfério norte, a celebração da páscoa era marcada com o fim do inverno e o início da primavera. Tempo em que animais e plantas aparecem novamente. Os pastores e camponeses presenteavam-se uns aos outros com ovos.
OVOS DE PÁSCOA De todos os símbolos, o ovo de páscoa é o mais esperado pelas crianças. Nas culturas pagãs, o ovo trazia a idéia de começo de vida. Os povos costumavam presentear os amigos com ovos, desejando-lhes boa sorte. Os chineses já costumavam distribuir ovos coloridos entre amigos referência à renovação da vida.
Existem muitas lendas sobre os ovos. A mais conhecida é a dos persas: eles acreditavam que a terra havia caído de um ovo gigante e, por este motivo, os ovos tornaram-se sagrados.Os cristãos primitivos do oriente foram os primeiros a dar ovos coloridos na Páscoa simbolizando a ressurreição, o nascimento para uma nova vida. Nos países da Europa costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos e doá-los aos amigos. Em outros, como na Alemanha, o costume era presentear as crianças. Na Armênia decoravam ovos ocos com figuras de Jesus, Nossa Senhora e outras figuras religiosas.
Pintar ovos com cores da primavera, para celebrar a páscoa, foi adotado pelos cristãos, nos século XVIII. A igreja doava aos fiéis os ovos bentos.
A substituição dos ovos cozidos e pintados por ovos de chocolate, pode ser justificada pela proibição do consumo de carne animal, por alguns cristãos, no período da quaresma.A versão mais aceita é a de que o surgimento da indústria do chocolate, em 1830, na Inglaterra fez o consumo de ovos os, na primavera, como de chocolate aumentar

COELHO O coelho é um mamífero roedor que passa boa parte do tempo comendo. Ele tem pêlo bem fofinho e se alimenta de cenouras e vegetais. O coelho precisa mastigar bem os alimentos, para evitar que seus dentes cresçam sem parar. 
Por sua grande fecundidade, o coelho tornou-se o símbolo mais popular da Páscoa. É que ele simboliza a Igreja que, pelo poder de cristo, é fecunda em sua missão de propagar a palavra de Deus a todos os povos. 
CORDEIRO O cordeiro é o símbolo mais antigo da Páscoa, é o símbolo da aliança feita entre deus e o povo judeu na páscoa da antiga lei. No Antigo Testamento, a Páscoa era celebrada com os pães ázimos (sem fermento) e com o sacrifício de um cordeiro como recordação do grande feito de Deus em prol de seu povo: a libertação da escravidão do Egito. Assim o povo de Israel celebrava a libertação e a aliança de Deus com seu povo. 
Moisés, escolhido por Deus para libertar o povo judeu da escravidão dos faraós, comemorou a passagem para a liberdade, imolando um cordeiro.
Para os cristãos, o cordeiro é o próprio Jesus, Cordeiro de Deus, que foi sacrificado na cruz pelos nossos pecados, e cujo sangue nos redimiu: "morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, restituiu-nos a vida". É a nova Aliança de Deus realizada por Seu Filho, agora não só com um povo, mas com todos os povos.
CÍRIO PASCAL É uma grande vela que se acende na igreja, no sábado de aleluia. Significa que "Cristo é a luz dos povos".Nesta vela, estão gravadas as letras do alfabeto grego"alfa" e "ômega", que quer dizer: Deus é princípio e fim. Os algarismos do ano também são gravados no Círio Pascal.O Círio Pascal simboliza o Cristo que ressurgiu das trevas para iluminar o nosso caminho.
GIRASSOL O girassol é uma flor de cor amarela, formada por muitas pétalas, de tamanho geralmente grande. Tem esse nome porque está sempre voltado para o sol.
O girassol, como símbolo da páscoa, representa a busca da luz que é Cristo Jesus e, assim como ele segue o astro rei, os cristãos buscam em Cristo o caminho, a verdade e a vida.
PÃO E VINHO O pão e o vinho, sobretudo na antiguidade, foram a comida e bebida mais comum para muitos povos. Cristo ao instituir a Eucaristia se serviu dos alimentos mais comuns para simbolizar sua presença constante entre e nas pessoas de boa vontade. Assim, o pão e o vinho simbolizam essa aliança eterna do Criador com a sua criatura e sua presença no meio de nós.Jesus já sabia que seria perseguido, preso e pregado numa cruz. Então, combinou com dois de seus amigos (discípulos), para prepararem a festa da páscoa num lugar seguro.Quando tudo estava pronto, Jesus e os outros discípulos chegaram para juntos celebrarem a ceia da páscoa. Esta foi a Última Ceia de Jesus. A instituição da Eucaristia foi feita por Jesus na Última Ceia, quando ofereceu o pão e o vinho aos seus discípulos dizendo: "Tomai e comei, este é o meu corpo... Este é o meu sangue...". O Senhor "instituiu o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar assim o Sacrifício da Cruz ao longo dos séculos, até que volte, confiando deste modo à sua amada Esposa, a Igreja, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que se come Cristo, em que a alma se cumula de graça e nos é dado um penhor da glória futura" [3].A páscoa judaica lembra a passagem dos judeus pelo mar vermelho, em busca da liberdade.

Hoje, comemoramos a páscoa lembrando a jornada de Jesus: vida, morte e ressurreição.
Colomba Pascal O bolo em forma de "pomba da paz" significa a vinda do Espírito Santo. Diz a lenda que a tradição surgiu na vila de Pavia (norte da Itália), onde um confeiteiro teria presenteado o rei lombardo Albuíno com a guloseima. O soberano, por sua vez, teria poupado a cidade de uma cruel invasão graças ao agrado. 
SINO Muitas igrejas possuem sinos que ficam suspensos em torres e tocam para anunciar as celebrações. O sino é um símbolo da páscoa. No domingo de páscoa, tocando festivo, os sinos anunciam com alegria a celebração da ressurreição de cristo.
Quaresma Os 40 dias que precedem a Semana Santa são dedicados à preparação para a celebração. Na tradição judaica, havia 40 dias de resguardo do corpo em relação aos excessos, para rememorar os 40 anos passados no deserto.
Óleos Santos Na antiguidade os lutadores e guerreiros se untavam com óleos, pois acreditavam que essas substâncias lhes davam forças. Para nós cristãos, os óleos simbolizam o Espírito Santo, aquele que nos dá força e energia para vivermos o evangelho de Jesus Cristo.


Fontes:
PORTAL DA FAMÍLIA
[1] Baseado na Coleção Descobrindo a Páscoa, Edições Chocolate.
[2] A vitória da Páscoa, Georges Chevrot, Editora Quadrante, São Paulo, 2002
[3] Vida Eucarística, José Manuel Iglesias, Editora Quadrante, São Paulo, 2005 Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.

quinta-feira, 7 de março de 2013

MEDINDO AS RIQUEZAS DO SER HUMANO!!

Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", porque fui vítima de uma omissão inexplicável. Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo, e nesta lista eu não apareço. E eu sou um homem rico, imensamente rico. Como não? Vou mostrar a vocês: Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, e saúde, que conservo não sei como. Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade. Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos que são como meus irmãos.

Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos. Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes porque eles leem o que eu mal escrevo. Eu tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).

Eu tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença de Adão e Eva no Paraíso. Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra. Eu tenho olhos que veem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos que acariciam; cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, mas que para mim não haviam ocorrido nunca. E eu tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito. Pode haver riquezas maiores do que a minha? Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na lista dos homens mais ricos do planeta?" E você, como se considera? Rico ou pobre? Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa que possuem é ... DINHEIRO.

Armando Fuentes Aguirre (Catón)

terça-feira, 5 de março de 2013

E precisamos todos desobedecer...


As grandes conquistas, criações e descobertas da humanidade foram feitas por gente desobediente. Por isso, é tão chocante a explosão no consumo de Ritalina

Por Nanda Barreto, em Transitiva e Direta

Recebo com horror e indignação a pesquisa divulgada recentemente pela Anvisa que mostra o aumento em 75% do consumo de Ritalina entre crianças e adolescentes na faixa dos 6 aos 16 anos de 2009 a 2011. Conhecida como a “droga da obediência”, o medicamento é usado para combater o polêmico Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Estamos drogando as crianças em nome de uma sociedade doente.
Há tempos o clamor geral à obediência pulula como pulga atrás da minha orelha esquerda. 

Obedecer é um mandamento básico da educação. Ainda falamos gugu-dadá e mal caminhamos sobre os dois pés quando começam a nos cobrar comportamentos obedientes. Qualquer coisa diferente disso soa como má educação, um verdadeiro atentado à vontade alheia. Para quem se “comporta”, recompensas. Para os desobedientes, castigos.
Mas o que é “comportar-se bem” senão respeitar um conjunto de regras que, muitas vezes, ninguém sabe exatamente a razão pela qual existem? Quem determina o que e quem deve ser obedecido? E nem estou me rebelando contra as “normas” de convivência social. Compreendo que a existência de 7 bilhões de seres humanos dependa de um certo nível de organização, direitos e deveres.

Estou falando da obediência como a via suprema da educação. A obediência como um valor exacerbado que suprime o desenvolvimento, atrofia o intelecto e acostuma o coração da gente a bater na freqüência do medo. Bom, o fato é que essa pulga que planta bananeira atrás da minha orelha também planta uma pergunta: se obedecer fosse realmente uma virtude, será que a humanidade existiria?
Até onde posso alcançar, vejo que todas as grandes as conquistas, criações e descobertas da humanidade foram feitas por gente desobediente. Por gente que não se limitou a demarcações geográficas, que amou desmedidamente e foi além do “possível”. Gente hiperativa que soube dizer sim!, que soube dizer não!

Assim, fica difícil entender porque valorizamos tanto a obediência, porque nos submetemos ao conformismo da inação e gastamos uma energia gigantesca para satisfazer o senso-comum. Gente obediente não questiona, não transforma, não reluz e não pisa na grama. Chatíssimo, né? Então, que tal diminuirmos a Ritalina e semearmos a desobediência como uma prática cotidiana para expandir ideias em lugar de reduzi-las ao velho e equacionado binômio do “certo” e “errado”?

sábado, 12 de janeiro de 2013