No livro “Ética a
Nicômaco” Aristóteles discorre sobre três espécies de amizades: amizade
segundo o prazer, segundo a utilidade e segundo a virtude.
Vamos ver o que
significa isto?
A amizade segundo o
prazer é aquela amizade cujo elo se dá pelo prazer de estar juntos, ou seja,
amigos que fazem rir contando piadas, que são engraçados que deixam tudo
“correr frouxo” e estão sempre de "bem com a vida". Os amigos segundo
o prazer fazem programas juntos, vão às danceterias, aos bares, futebol etc.
Compartilham todos
os prazeres, e nesse tipo de amizade não se leva em conta o caráter. O foco da
relação está na quantidade, na qualidade e na durabilidade do prazer que se
proporcionam mutuamente.
O segundo tipo de
amizade é a amizade segundo a utilidade. E, ainda desta vez o caráter da pessoa
não conta na seleção. Conta o que ela pode receber.
Eu conheci duas
pessoas que se relacionavam com base nessa amizade.
Elas trabalhavam
juntas, faziam supermercados juntas, iam ao cinema juntas e, aos domingos a
mais jovem sempre almoçava na casa da mais velha.
Elas não eram
namoradas. Tinham interesses mútuos: uma tinha carro e não gostava de
dirigir, a outra adorava dirigir, mas não tinha dinheiro para comprar carro.
Uma cozinhava divinamente, a outra não sabia fritar um ovo e por aí vai...
Finalmente, a
amizade segundo a virtude é baseada na bondade já desenvolvida na pessoa, ou
dizendo de outra maneira, é a amizade despretensiosa entre pessoas que se buscam
por que têm em comum os mesmos ideais, os mesmos gostos, o mesmo padrão de
conduta. O bem manifestado nessa relação é originário da evolução alcançada.
Tem poder de atrair pelo ser que é.
Diferentemente das
duas primeiras que acabam tão logo tenham conseguido realizar seus objetivos, a
amizade com base na virtude é duradoura, pois está fundamentada em valores que
não são perecíveis e que se realimentam
constantemente. Ela é fruto do auto-desenvolvimento, do
aprimoramento da alma, além de ser essencial à vida.
Esta breve reflexão
me faz concluir que para termos amigos verdadeiros, pelo menos segundo
Aristóteles, precisamos desenvolver a virtude, elevar o padrão de nossos
pensamentos, de nossos comportamentos e de nossas ações e atos pessoais e
socias.
Não significa virar
santo. Significa sermos, pelo menos, éticos.
Sueli Monteiro