quinta-feira, 19 de maio de 2011

O MUNDO NÃO É MATERNAL

É bom ter mãe quando se é criança, e também é bom quando se é adulto.
Quando se é adolescente pensa que viveria melhor sem ela, mas é erro de cálculo. Mãe é bom em qualquer idade. Sem ela, ficamos órfaõs de tudo, já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco.

O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome. Não liga se viramos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.
O mundo quer que a gente fique horas no telefone, torrando dinheiro. Quer que a gente case logo e compre um apartamento que vai nos deixar endividados por 20 anos.
O mundo quer que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência, e estoure o cartão de crédito.

Mãe também quer que a gente tenha boa aparência mas está mais preocupada com o nosso banho, com o nossos dentes e nossos ouvidos, com a nossa limpeza interna.
Não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba.

O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar através. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso batimento. O mundo quer que sejamos lindos, sarados e vitoriosos, para enfeitar ele próprio, como se fôssemos objetos de decoração do planeta.
O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em casa. O mundo quer nosso voto mas não quer atender nossas necessidades. O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula, nos exclui O mundo não tem doçura, não tem paciência, não pára para nos ouvir. O mundo pergunta quantos eletrodomésticos temos em casa e qual é o nosso grau de instrução, mas não sabe nada dos nossos medos de infância, das nossas notas no colégio, de como foi duro arranjar o primeiro emprego.

Para o mundo, quem menos corre, voa.
"Quem não se comunica se trumbica.
Quem com ferro fere, com ferro será ferido."
O mundo não quer saber de indivíduos, e sim de slogans e estatísticas...

Mãe é de outro mundo. É emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática, chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção. Mãe sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto o mundo propriamente dito, exige eficiência máxima, seleciona os mais bem dotados e cobra caro pelo seu tempo. Mãe é de graça!!!

(MARTHA MEDEIROS)

Férias na Bahia

Placa na entrada do túnel de bambu, na saída do aeroporto de Salvador: Sorria, você está na Bahia. Nem precisava.
Com a partida de Jorge Amado e depois de Dorival Caymmi, foi-se uma boa parte do espírito da Bahia do século 20. A cidade cresceu e se modernizou, conseguiu integrar as suas manifestações mais primitivas, dos tambores, dos blocos afro e do próprio carnaval, à alta tecnologia dos trios elétricos e da indústria da alegria em que se transformou o turismo baiano.

Como já cantava Gordurinha nos anos 50, "pau que nasce torto não tem jeito morre torto, baiano burro garanto que nasce morto". Ou, como me disse Dorival Caymmi, quando lhe perguntei se ele queria ensaiar antes de um programa de TV: "Baiano já nasce ensaiado, meu filho."

Mas continuam vigorando os quatro tempos de qualquer atividade na Bahia: lento, lentíssimo, devagar-quase-parando e dorival-caymmi.

Carlinhos Brown desconstrói a lenda da preguiça local:
"Baiano é como avião a jato. Você olha ele de longe no céu, parece que está parado; chega perto e ele ... zum!"
Davi Moraes reclamou com a baianinha que ela havia posto açúcar no suco de laranja que ele pedira sem. E ela, toda dengosa: "Mexa não."

O que a alguns pode parecer exibicionismo, para os baianos, é apenas exuberância. Daí que eles não nascem, estreiam. E não morrem, saem de cena. Consequentemente, a Bahia não tem plateias, mas coadjuvantes. Não tem povo, tem elenco. É tal o sucesso da música baiana que se suspeita que a Bahia seja uma grande gravadora disfarçada de Estado.

Outro diferencial baiano vem da cultura do candomblé, uma religião sem pecado e sem culpa, onde os santos, as entidades, até intermedeiam romances e inspiram cantadas originais:
"Meu Oxóssi está doidinho pela sua Oxum."

Também se atribui à cultura do candomblé uma maior tolerância e liberdade sexual. Pode-se perguntar com naturalidade à amiga que diz que adora namorar:
"Menino ou menina?"
"Oxente, sou multimídia."

(Nelson Motta)

domingo, 1 de maio de 2011

Poema de Milarepa

A pintura dourada se desbota com o tempo,
as lindas flores do campo logo fenecem,
os pálidos raios da lua logo se devanecem,
o rio caudaloso dilui-se no mar,
o arroz que cresce no vale logo é colhido,
o filho querido cresce e logo se vai para sempre.

Isto mostra a transitoriedade de todas as coisas.
Isto prova a impermanência de todas as coisas.
Pense e você tomará consciência.

Estas são as comparações que canto,
espero que você se recorde sempre.
Preocupações e sofrimento sempre existirão,
então deixe-os de lado,
e viva segundo esta grande consciência.