sábado, 12 de junho de 2010

SE É PAIXÃO ME NEGO

Se é paixão, me nego.
Já resvalei a alma em pêlo, nesse áspero despenhadeiro.
Se é paixão, não quero.
Conheço seus espinhos de mel,
sei aonde conduz embora prometa os céus.
Se é paixão, desculpe-me, não posso.
Conheço suas insônias e a obsessão.
Se é paixão me vou, não devo...
não adiantam teus apelos.
Resistirei, porque aí morri mil vezes.
Paixão é arma de três gumes,
e ao seu corte estou imune.
Se é paixão, me nego e não receio que me acuses
de medo.
Do desvario conheço todos os segredos.
Se é paixão recuso-me e sinto muito,
pois foi a custo que saí do labirinto.
(Afonso Romano Sant'Anna)


ENTREVISTA

Telefonam-me do jornal:
-Fale de amor-diz o repórter, como se falassedo assunto mais banal.
-Do amor? -Me rio informal.
Mas ele insiste:-Fale-me de amor-sem saber, displicente,que essa palavra é vendaval.
-Falar de amor?-Pondero: o que está querendo, afinal?
Quer me expor no circo da paixão como treinado animal?
-Fala...-insiste o outro - Qualquer coisa.
Como se o amor fosse“qualquer coisa”prá se embrulhar no jornal.
-Fale bem, fale mal,uma coisa rapidinha-ele insiste,
como se ignorasse que as feridas de amor
não se lavam com água e sal.
Ele perguntando eu resistindo,
porque em matéria de amor e de entrevista
qualquer palavra mal dita é fatal.
(Afonso Romano Sant'Anna)

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