terça-feira, 24 de março de 2015

Reflexões sobre a amizade

No livro “Ética a Nicômaco” Aristóteles discorre sobre três espécies de amizades: amizade segundo o prazer, segundo a utilidade e segundo a virtude.
Vamos ver o que significa isto?
A amizade segundo o prazer é aquela amizade cujo elo se dá pelo prazer de estar juntos, ou seja, amigos que fazem rir contando piadas, que são engraçados que deixam tudo “correr frouxo” e estão sempre de "bem com a vida". Os amigos segundo o prazer fazem programas juntos, vão às danceterias, aos bares, futebol etc.
Compartilham todos os prazeres, e nesse tipo de amizade não se leva em conta o caráter. O foco da relação está na quantidade, na qualidade e na durabilidade do prazer que se proporcionam mutuamente.
O segundo tipo de amizade é a amizade segundo a utilidade. E, ainda desta vez o caráter da pessoa não conta na seleção. Conta o que ela pode receber.
Eu conheci duas pessoas que se relacionavam com base nessa amizade.
Elas trabalhavam juntas, faziam supermercados juntas, iam ao cinema juntas e, aos domingos a mais jovem sempre almoçava na casa da mais velha.
Elas não eram namoradas. Tinham interesses mútuos: uma tinha carro e não gostava de dirigir, a outra adorava dirigir, mas não tinha dinheiro para comprar carro. Uma cozinhava divinamente, a outra não sabia fritar um ovo e por aí vai...
Finalmente, a amizade segundo a virtude é baseada na bondade já desenvolvida na pessoa, ou dizendo de outra maneira, é a amizade despretensiosa entre pessoas que se buscam por que têm em comum os mesmos ideais, os mesmos gostos, o mesmo padrão de conduta. O bem manifestado nessa relação é originário da evolução alcançada. Tem poder de atrair pelo ser que é.
Diferentemente das duas primeiras que acabam tão logo tenham conseguido realizar seus objetivos, a amizade com base na virtude é duradoura, pois está fundamentada em valores que não são perecíveis e que se realimentam constantemente.   Ela  é fruto do auto-desenvolvimento, do aprimoramento da alma, além de ser essencial à vida.
Esta breve reflexão me faz concluir que para termos amigos verdadeiros, pelo menos segundo Aristóteles, precisamos desenvolver a virtude, elevar o padrão de nossos pensamentos, de nossos comportamentos e de nossas ações e atos pessoais e socias.
Não significa virar santo.  Significa sermos, pelo menos, éticos.

Sueli Monteiro


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